*Rangel Alves da
Costa
Vejam
vocês como as coisas acontecem, sintam como os encantos e os fascínios da vida
nos procuram, ainda que em instantes que jamais esperamos que tais belas
surpresas ocorram. Mas assim aconteceu na noite deste domingo. Eu aqui no
noturno sem graça da capital sergipana, cheio de saudades de meu Poço Redondo,
eis que o celular desperta. Então a reviravolta no meu entristecido silêncio.
Tudo
motivado por uma mensagem enviada, lá das distâncias do meu sertão, pelos meus
amigos Reinaldo e Cidinha. De início apenas fotografias, para em seguida
dizerem que os retratos haviam sido tirados na estrada de Curralinho. E mais:
resolveram fotografar não só porque se encantaram com tamanha beleza, mas
também porque lembraram que eu ficaria contente em avistar aquela perfeição
sertaneja. Muito obrigado Reinaldo e Cidinha, já agradeci logo após o envio, mas
ainda não disse do imenso prazer que proporcionaram ao meu coração sertanejo.
E vejam o
motivo de tudo: um pé de craibeira na beira da estrada do Curralinho. Mas não
uma simples craibeira, mas a craibeira mais linda e mais suntuosa do mundo, a
craibeira mais florida e mais viva da terra. E o que mais desperta aos sentimentos:
tamanha beleza em meio a uma paisagem sofrida, de pouca chuva e pouco verde,
onde o marrom e o acinzentado se alastram e a poeira do chão se levanta a cada
passagem. Mas é nesta moldura que está a craibeira.
O retrato:
a estrada de chão batido, entremeada de pontas de pedras e secura, num caminho
tipicamente sertanejo, pois ladeado por cercas de arames farpados, plantas
rasteiras e ressequidas, tufos de matos, tendo alguma vegetação carcomida de
sol pelos arredores, numa angustiante desolação, mas ao mesmo tempo a presença,
bem no beiral da estrada, da imponente craibeira. Quem, entre a surpresa e o
fascínio, não duvidará de estar em outro mundo que não o sertanejo?
Mas está
no sertão, sim senhor. A craibeira é tão sertaneja como o próprio homem da terra,
é tão matuta quanto a catingueira, o mandacaru e o xiquexique. Contudo, não é
fácil de ser encontrada. Daí sua beleza ainda maior ao surgir como surpresa ao
olhar, daí sua magia ao ser avistada até como uma impensável florada sertaneja:
flores amareladas, vivas, de um dourado ora mais singelo ora mais suntuoso,
sobressaindo perante tudo o que houver na paisagem ao redor.
A verdade
é que o florescer das craibeiras se torna a mais bela poesia sertaneja. Mesmo
ainda distantes, logo os olhos divisam aquelas cores majestosas tomando a copa
das árvores defronte às moradias, casebres longínquos, beiras de estradas,
sempre se sobressaindo nas paisagens. Talvez vaidosa demais, mas a verdade é
que as craibeiras gostam de crescer afastada de outras árvores, em local onde
possam florescer e logo serem reconhecidas pela beleza de suas cores.
A partir
de setembro, em plena estiagem, com tudo ao redor acinzentado e quando o clima
começa a esquentar ainda mais, eis que elas desafiam a paisagem e irrompem com
suas folhas amareladas. E basta o florescer imponente para que tudo se
transforme ao redor, vez que as atenções não serão outras que não para a árvore
símbolo da beleza em meio ao impensável.
E não
obstante as copas douradas, revestidas de um amarelo tão vivo que chega a
brilhar à luz do sol, o chão logo abaixo também se transforma num tapete de
incomparável formosura. E o mais incrível é que as flores surgem desnudadas de
folhas; ou seja, vão desabrochando junto aos galhos e tomam toda a copa das
árvores, atraindo pássaros, borboletas, abelhas e principalmente o olho humano.
Foi este
prazer incontido que Reinaldo e Cidinha me proporcionaram na noite deste
domingo. Um presente inesquecível a quem, mesmo na distância, não esquece um só
instante do seu sertão, de seu Poço Redondo. O casal amigo lida com doces, bem
sei, mas dessa vez adoçaram demais o meu coração. Obrigado pela doçura do
afeto.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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