*Rangel Alves da Costa
Quase todo dia a mesma aflição. Gente grande
ainda suporta a fome, a sede, a dor que aparece, os inevitáveis da vida, mas é
muito diferente quando quem sente fome é criança, quem chora é criança, quem
sente dor é a criança. Difícil explicar por que já passa do meio-dia e não há
nenhuma panela sobre o fogão. Difícil explicar por que o prato de estanho não
trinca nem há qualquer chamado para a comida. Comer o que, se nada tem? Gente
grande sofre, suporta, mas fazer o que diante de inocentes, de crianças que
nada entendem de pobreza, de miséria, de falta de tudo? Catar o pão dormido, o
resto de fubá, o tiquinho de farinha, procurar pelos cantos e nos fundos das
latas. Nada, nada, nada, apenas um calango magro que pula para se esconder. Um
calango? Não deve ser muito diferente do preá, ao menos na fome mais bruta. Restam
algumas brasas e há criança chorando. Um calango? Tanto faz. Mais triste é o
choro, o sofrimento. Assim acontece. Não há comida, não há preá, apenas um
calango magro.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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