SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 17 de setembro de 2016

Palavra Solta - do diário de minha gente


*Rangel Alves da Costa


Sou sertanejo, e sertanejo do sertão arretado mesmo, pois da aridez nordestina da sequidão. Em Poço Redondo, no sertão sergipano onde nasci, costuma bicho morrer de sede e gente fraquejar pela fome. É um viver desditoso danado, ao menos na luta pela sobrevivência. Quando falta a farinha e o pão, igualmente falta a caça ou o fruto de polpa enganadora de fome. Não há mais caça no sertão, o bicho sumiu de vez. Sem a mata - extirpada pela ganância humana - não há como bicho ter a sombra, fazer ninho, comer de sua folhagem e flor. O que há de belo, tantas vezes só alimenta o olhar. Mas ninguém come a lua grande nem se serve do céu azulado e do horizonte entre serras e descampados. Daí que dá boca da noite em diante é um tempo de café com naco de farinha seca e de prece para a paz ao alvorecer. Mas quando amanhece apenas a cor bonita da alva, o farfalhar do que ainda resta de folhagem, para depois tudo acalorar, esquentar, ressequir. E também avistar a vaquinha magrinha, o cavalo no couro e osso. A vida, assim tão sofrida.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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