*Rangel Alves da Costa
Sou sertanejo, e sertanejo do sertão arretado
mesmo, pois da aridez nordestina da sequidão. Em Poço Redondo, no sertão
sergipano onde nasci, costuma bicho morrer de sede e gente fraquejar pela fome.
É um viver desditoso danado, ao menos na luta pela sobrevivência. Quando falta
a farinha e o pão, igualmente falta a caça ou o fruto de polpa enganadora de
fome. Não há mais caça no sertão, o bicho sumiu de vez. Sem a mata - extirpada
pela ganância humana - não há como bicho ter a sombra, fazer ninho, comer de
sua folhagem e flor. O que há de belo, tantas vezes só alimenta o olhar. Mas
ninguém come a lua grande nem se serve do céu azulado e do horizonte entre
serras e descampados. Daí que dá boca da noite em diante é um tempo de café com
naco de farinha seca e de prece para a paz ao alvorecer. Mas quando amanhece
apenas a cor bonita da alva, o farfalhar do que ainda resta de folhagem, para
depois tudo acalorar, esquentar, ressequir. E também avistar a vaquinha
magrinha, o cavalo no couro e osso. A vida, assim tão sofrida.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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