*Rangel Alves da Costa
Ouço mais o silêncio do que a palavra em voz.
Nem toda voz me chega audível. Ou vem distorcida ou me chega inoportuna. Ouço e
não ouço, finjo ouvir. Até creio que a maioria das pessoas não mais sabe falar.
Gritam, vociferam, embrutecem a comunicação. O sussurro lhe soa estranho porque
desacostumou a ter medida. Não conhece a plangência dá voz em seu tom de
assimilação na alma. Por isso mesmo que o silêncio me chega melhor, com voz
mais compreensível que qualquer palavra. Ademais, já nem sei quando ouvi uma
palavra singela, um frase afetuosa, uma expressão carinhosa. Nunca me esqueço
de ter ouvido um dia: “Meu olho gosta de avistar seu olhar. Eu também gosto de
avistar onde está. Por isso caminho feliz para lhe encontrar”. Deu-me um beijo
e partiu. Mas toda vez que se faz silêncio ainda ouço sua voz, ainda ouço sua
meiguice na voz. E é como aquele beijo se repetisse sempre. Na voz, na voz da
saudade. No silêncio que se traduz em esperança, pois ouço a mim mesmo dizendo:
Volte!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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