SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Palavra Solta - o retrato


*Rangel Alves da Costa


Tenho diante mim um retrato do sertão de agora: seco, esturricado, no barro no povo, no barro do tanque, no barro de tudo. Um sertão triste pela secura do sol, pelo mato devastado, pela solidão dos campos e os entristecimentos dos xiquexiques, mandacarus e facheiros. Retrato tirado por mim nas caminhadas que sempre faço por aquelas estradas e veredas, no meio do mato e diante do desalento. No retrato, um curral chiqueirado de tempo, latas e baldes esquecidos nas pontas de paus. Tudo tão antigo e enferrujado como os ocres de um outono qualquer. Porta e janela fechadas, sempre a porta e a janela fechadas. À frente, ainda as três cadeiras de antigos proseados. Sinhá Filó aí fazia sua renda de bilro, Titoca colocava dedal para remendar roupa velha. E a outra cadeira? Ora, guardada à espera do visitante e sua notícia boa. Mas ninguém nela jamais sentou...


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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