*Rangel Alves da
Costa
Estou
pensando em publicar - talvez ao final do ano e para presentear meus
conterrâneos - um livro das memórias poço-redondenses que de vez em quando
escrevo aqui. Já tenho até o título em mente: “Poço Redondo - Memórias”.
Importante
que tal publicação seja feita por dois motivos principais. O primeiro por que
as pessoas mais jovens precisam conhecer um pouco mais de sua história, de seu
passado, daqueles cotidianos singelos e tão importantes na formação cultural do
lugar. Em segundo, por que tenho um compromisso comigo mesmo que assim seja
feito. É promessa feita a mim mesmo que preciso retribuir ao meu berço de
nascimento o que de melhor ele me proporcionou na vida: ter nascido no seu
chão, ser seu filho!
Mas outra
coisa se impõe como necessidade. Não me incomodo se digam que tanto gosto de
velharias, de coisas antigas, de coisas até sem importância ao presente. Também
não me incomodo se digam que insisto em promover a cultura e a história se a
juventude não tem a mínima preocupação com o ontem. Tudo o que faço é por amar
o que faço. Jamais será sem motivo meu constante diálogo com os mais velhos,
minhas visitas aos lugarejos distantes, meu prazer em compartilhar saberes com
aqueles que são verdadeiros livros. Livros matutos, sertanejos, de sabedorias
infinitas.
Quando,
alguns dias atrás, eu aqui publiquei retratos de Curralinho, seus casarões
ainda avistados e outros já em escombros, não o fiz somente porque gosto de
registrar em fotografia minhas andanças. Não, o fiz exatamente para que o povo
tome conhecimento daquela realidade. E de uma realidade que é história, que é
cultura. Do mesmo modo quando publico retratos dos escombros presentes em Poço
de Cima e daquelas velhas moradias de cipó e barro ainda sustentadas pelo
desejo do tempo.
O livro
pretendido será, assim, como um baú antigo e aberto perante todos. Muitos se
reconhecem no seu conteúdo, se avistam nas suas histórias, mas outros não. E é
a estes que quero chegar, de modo que também se reconheçam enquanto raízes
brotadas de gerações a gerações. E será um livro diferente daqueles já
publicados sobre a história de Poço Redondo, sendo um de autoria de Alcino e
outro meu, pois neste não haverá compromisso com o percurso histórico, mas tão
somente relatar fatos, causos, proseados e acontecidos.
E acontecidos
que continuo buscando com avidez. Hoje, por exemplo, ao avistar um retrato do
Seu Adelaido, já na altura de seus 110 anos, porém ainda forte e de boa
memória, logo senti necessidade de encontrá-lo com brevidade. Eu já tinha
ouvido falar sobre ele, sua sabedoria e seu “conhecimento de muitos mistérios
além de nosso alcance”, e até Doutor de Iolanda já havia me despertado sobre a
importância de se conhecer melhor sobre esse homem de fundamental importância
na história Poço Redondo.
Também
avistei o retrato de João de Laura. Ou irei beber na sabedoria desses sertanejos
de pujantes raízes ou pouco acrescentarei ao já conhecido. Não só Seu Adelaido
como João de Laura, mas muitos outros que ainda estão entre nós e pouco são
valorizados não só nas suas importâncias de sertanejos como de seres humanos já
cicatrizados de luta. É que o tempo de vez em quando se nega a nos dar a chave
de todas as portas e de tudo o que temos a fazer, mas sei que tenho ir à porta
de cada um. E que bom dizer “oi de casa” e ouvir lá de dentro “oi de fora”.
Hoje eu ia
contar outra história, porém vou deixar pra depois. Nem aquela quando João
Pinguinho namorou com a mulher do farmacêutico e depois fugiu com a dita,
deixando a cidade em polvorosa e o coitado do corneado sem saber o que fazer.
Também nem aquela dando conta que foi a então lavadeira Mariá a inspiração para
um dos maiores sucessos de Messias Holanda: “Pra onde vai com essa trouxona de
roupa Mariá, na cacimba só tem água pra beber. Pouca água deixa a roupa mal
lavada Mariá. Lavar roupa também tem o que aprender...”.
Com
efeito, dizem que a letra foi feita quando Messias Holanda chegou a Poço
Redondo, nos anos 70, para um grande show sertanejo que reuniu nada menos que
doze renomados artistas, dentre os quais Elino Julião, Messias Holanda, João do
Pife, Clemilda e Gérson Filho, Marinês, Pedro Sertanejo e muitos outros. O
prefeito era Alcino, e foi ao lado deste que Messias Holanda conheceu a
lavadeira Mariá, que ia passando com trouxa de roupa na cabeça.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário