Rangel Alves da Costa*
Curralinho é uma povoação ribeirinha, às
margens do Velho Chico, no município de Poço Redondo, este fincado no Alto
Sertão Sergipano do São Francisco. Situa-se na região mais semiárida, mais seca
e mais empobrecida do Nordeste brasileiro. É um contexto geográfico até
contrastante, vez que a secura da terra não fica muito distante das beiradas do
São Francisco. Da sede do município à margem do rio não são mais que 14 km.
Pois bem. Foi nas beiradas do São Francisco onde
todo o povoamento do sertão sergipano teve início. E foi em Curralinho que o
homem e o animal primeiro aportaram, vindos dos litorais mais distantes, ainda
nos tempos da colonização portuguesa e invasões holandesas, para ali colocarem
os pés e darem início ao que se tem hoje como sertão. E o nome Curralinho pelos
pequenos currais que foram surgindo assim que os rebanhos eram descidos das
embarcações.
A partir destes pequenos currais, verdadeiros
“curralinhos”, o forasteiro, então se tornando desbravador dos desconhecidos
sertões, foi abrindo veredas entre as serras até encontrar local apropriado
para erguer moradia, levantar novo curral, demarcar e tomar posse da terra
inabitada. Assim, passo a passo, a partir das beiradas do Velho Chico, o sertão
foi sendo povoado. Contudo, Curralinho permanecia com fundamental importância
neste nascente contexto sertanejo.
Ora, era das margens do Curralinho, bem
defronte às altas calçadas que ainda servem de proteção às grandes enchentes,
que toda a vida sertaneja respirava. As grandes embarcações, chatas e vapores,
faziam percurso trazendo e levando pessoas, mercadorias, animais, tudo. Açúcar,
carvão, tecidos, farinha, café, nada do utilizada deixava de chegar por aquelas
beiradas. Daquele porto se seguia a Pão de Açúcar, Penedo, Propriá, e daí ao
mundo inteiro. E não havia outro meio de chegar ou partir.
Em tal contexto, logo se observa a
importância que Curralinho passou a ter. A própria povoação possuía um comércio
florescente e com sustento garantido a toda população, não apenas pela pesca
abundante, mas principalmente pelo intenso tráfego comercial. O espelho desse
tempo de pujança ainda pode ser mirado nas velhas construções, de beleza
arquitetônica inigualável, mas que, infelizmente, estão se tornando em
verdadeiros escombros. São os escombros da história de Curralinho, de Poço Redondo,
do sertão.
O que aconteceu como o Poço de Cima – local de
nascimento da cidade de Poço Redondo – é o mesmo que está acontecendo com
Curralinho. Quem chega hoje ao Poço de Cima avista somente restos e escombros
de toda a grandeza de um dia. Até mesmo a Capela de Santo Antônio teve de ser “adotada
e cuidada” sob pena de mais nada restar ao lado dos antigos túmulos familiares.
E o mesmo está acontecendo com Curralinho. Quando as últimas quatro ou cinco casas
do Poço de Cima desabarem de vez, apenas a capela e o cemitério restarão da
antiga e rica história.
Daquelas antigas e belíssimas construções de
Curralinho, somente umas duas ou três continuam de pé, habitadas, e em cujos
interiores ainda é possível encontrar a feição viva do passado. Já as demais ou
foram completamente derrubadas ou possuem somente a fachada em pé, e mesmo
assim quase desabando. Perante tais fachadas, é como se o tempo fosse da
história. Mas não. São os descasos humanos que sempre levam ao abandono e à
destruição.
Tais relatos são testemunhos do que ontem,
sábado, dia 10, pude presenciar. Estive em Curralinho e fui andando de rua a
rua, descendo e subindo beco, virando esquina, e cada vez mais me afligindo
pela situação daquelas imponentes e suntuosas moradias. Como dito, apenas duas
ou três ainda preservam as antigas arquiteturas tanto nas fachadas como nos
interiores, mas já com mostras de voraz destruição. As outras, apenas com o que
resta das fachadas, esperam apenas o sopro do tempo. E sem o devido cuidado,
toda pedra se transforma em pó. Infelizmente.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário