*Rangel Alves da Costa
E então o passarinho avoou. Ele estava preso,
engaiolado, mas depois avoou. Mas não foi fácil avoar. Cheguei escondido à casa
de Tonico e surripiei-lhe o passarinho. Um azulão bonito, famoso cantador, mas
de canto aprisionado e, por isso mesmo, melancólico. Cuidadosamente abri a
gaiola, segurei o bichinho e de lá e o retirei. Em seguida coloquei duas notas
graúdas dentro da gaiola, fechei a portinhola e saí levando o cantador. Mas
estava mudo, triste, talvez sem entender aquela ação. Ora, certamente
estranhava demais se vendo livre daquela prisão. Contudo, ainda preso à minha
mão. Então enveredei pela mataria, procurei um local de árvores grandes e tufos
de mato, e abri a mão. O bichinho caiu. Ao invés de voar, logo caiu. Entendi o
motivo. Estava desacostumado à liberdade, ao voo. E assim demorei mais de hora
fazendo com que ele reaprendesse a planar no ar, bater suas asas, e seguir em
frente, buscando as alturas. Mas consegui. De repente o passarinho tomou força,
titubeou um pouco, mas acertou o seu passo e avoou. Com o passarinho já solto e
pronto para retornar, quando olhei pra trás Tonico estava em pé. E chorando.
Perguntei por que chorava assim, porém nada respondeu. Voltou comigo de cabeça
baixa, sempre chorando. E tenho certeza que não foi porque afanei seu
passarinho para soltá-lo. É que ninguém suporta, sem chorar, ver a tristeza do
bichinho em liberdade e sem mais saber voar.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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