SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 4 de outubro de 2016

Palavra Solta - sem sombras


*Rangel Alves da Costa


Avisto magras vaquinhas pastando em campos abertos, desérticos, ressequidos de grama e de água. Avisto jumentos e pangarés ossudos, esqueléticos, zanzando de canto a outro em busca de qualquer lama e qualquer alimento. Avisto passarinhos voando apressados em busca de pés de paus e galhagens secas para descansar do calor e do sol. Avisto paisagens secas, carcomidas e feias, cinzentas e mortas, definhando cada vez mais. E avisto quando o homem, angustiado e entristecido, caminha no meio desse tempo sem sombras. Não há sombra de mato, de pé de pau, de tufo, de nada. A seca veio e dizimou toda folha e toda folhagem. A estiagem veio e impôs às paisagens o aspecto mais triste da desolação. E eu, já com sede e cansado, tenho que apenas seguir adiante, ou rapidamente voltar. Não há tanque com água nem umbuzeiro com sombra. Não posso sequer deitar debaixo do sombreado e sonhar com a chuva chegando. Apenas o sol e sua sombra de todo dia. Mas já quando a noite cai.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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