*Rangel Alves da
Costa
Noutro dia
escrevi aqui que muitos nascem para a solidão. E tudo vai levando a essa
confirmação. Por mais que experimente amar, por mais que lute para dividir
coração e sentimentos, eis que o amor se desanda no seu lado mais indesejado.
Há uma
luta titânica para encontrar no amor uma felicidade. Deseja-se o outro não só
pelo corpo e a carne, mas principalmente pelo encanto da amorosa compreensão. E
sendo compreendido poder partilhar o melhor da vida.
É que em
nome do amor há janela e porta abertas. Em nome do amor há uma esperança de
alegria e de contentamento. Em nome do amor há uma doce ilusão de caminhar pela
nuvem, de lamber algodão doce, de brincar com a lua e as estrelas.
Há no amor
o idílio, o delírio e o êxtase. Ao menos na idealização, o amor emerge assim
como salvação do corpo e da alma, como elevação espiritual, como portal de
paraíso e relva ao entardecer perante o horizonte mais belo.
Há no amor
uma poesia não escrita, mas a certeza de um poema. Há no amor o livro mais belo
já escrito, ainda que toda palavra ainda precise nascer. Há no amor uma
relíquia dourada que todos desejam ter como tesouro maior.
Por isso
mesmo que a busca do amor não significa apenas a fuga de um estado de solidão,
de tristeza e aflição, para ser alçada à feição de grande conquista. Neste
sentido, exsurge como uma necessidade para as grandes transformações da vida.
De tal
idealização do amor, a sua falta provoca justificações descabidas. Não é feliz
porque não ama, não tem alegria e contentamento porque não ama, vive na solidão
da estrada porque não ama, tem dias e noites aflitas porque não ama, não divide
o corpo porque não ama.
Mas será
que o amor será garantia do melhor na vida, da grande satisfação no viver, de
toda a felicidade que possa surgir, do fim de tudo pesaroso que possa existir?
Sim e não, talvez a resposta, pois a feição do amor só pode ser dada por aquele
que tem o amor como objetivo e não como meio.
Não obstante
as expectativas nem sempre alcançadas através do amor, a verdade é que nela
está o primeiro passo para outro modo de viver. Não basta afastar a solidão ou
a tristeza, mas atrair para si possibilidades e esperanças de grandes
realizações.
Sim, por
que amando a pessoa logo desanda o copo do negativismo para enchê-lo de
perfume. Amando, inegavelmente que a pessoa se predispõe a fazer melhor, a
realizar melhor, tudo com mais tenacidade e força. No amor está a vontade de
fazer e viver.
Ora, o
amor é prazer, é alegria, é contentamento. Quem ama deve levar jovialidade no
semblante e sorrisos no coração. E não angústias, tristezas e sofrimentos. Quem
ama declama seu amor em pensamento, escreve seu amor na vidraça, perpetua seu
momento numa página da vida.
Quem ama
conversa com a manhã e com o seu passarinho, abre a janela à borboleta e vê a
sua boca no bico do beija-flor. Quem ama troca as flores de plástico por rosas
viçosas, troca a lavanda no vidro pelo perfume do outro. Quem ama desenha na
areia seu poema de vida, e jamais temendo que a onda avance para destruir.
Amando,
certamente que não se procura avistar o amor em situação de desamor.
Injustificável seria que o amor sentido você impedido de ser sonho e voo apenas
pelo fato do medo. Medo de perder, medo de ser traído, medo de reencontrar a
solidão, medo de que a alegria logo se transforme em dor.
Há que se
afastar todo joio do trigo. O amor não convive nem com a dúvida nem com o medo.
Ou se ama ou se desama. E se é para frutificar o amor, que a sua certeza seja
como a necessidade de se seguir sempre adiante. Sendo amado e levando o amor
consigo, em busca de encontrar mais amor.
Como diz o
poema, que o amor seja infinito enquanto dure. Sua imortalidade está na força a
ele concedida a cada momento da relação amorosa. Assim o amor, assim amar.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Olá Rangel.
Acho que as pessoas que vivem se desiludindo no amor são exatamente aquelas que criam ilusões a respeito dele. O amor é bem menos romântico do que dizem. Aliás, o amor quase nem é romântico. É luta do dia a dia, acordar e conviver com o mau-humor da manhã, o mau-hálito, a pasta de dente na pia do banheiro, os cabelos caídos no chão. Amar é sair quando desejaria ficar em casa dormindo, ou ficar em casa dormindo quando gostaria de sair. Amar é saber que, a qualquer momento, pode passar alguém por quem o (a) cara-metade se encante, e então estaremos reduzidos a nada, a não ser uma memória mais ou menos boa. Amar é brigar de vez em quando, é suportar a sogra implicante, os almoços em família cheios de ironias e alfinetadas, e muitas vezes, o tédio da rotina. Se um relacionamento resiste a tudo isso, ele terá seus momentos de romantismo.
Mas o amor não é sinônimo de romantismo.
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