*Rangel Alves da Costa
Lá das
terras de onde vim, num sertão esturricado de sol nas vastidões sergipanas,
havia uma Mariazinha que possuía um mundo próprio. E eu agora o denomino de o
mundo de Mariazinha do Doce. Sim, Mariazinha fazia doce para vender e
sobreviver. Doce de frade, como se diz por lá. Todo amanhecer Mariazinha ia
para a caatinga catar cabeça de frade (um cacto arredondo, de espinhos graúdos,
com uma auréola avermelhada por riba) e de lá voltava com uma lata na cabeça
com quatro ou cinco cactos. Ao chegar, pegava no facão e retirava espinhos e
pele, deixando somente a carne branca. Depois pinicava a carne do cacto e
misturava ao coco e ao açúcar, não esquecendo outros ingredientes de gosto, preparando
tudo num tacho sobre fogão de lenha. Mexia, mexia, até chegar ao ponto. Em
seguida despejava tudo numa bandeja e deixava esfriar. Não demorava muito e o
doce já estava em cima de uma banquinha na frente do casebre de Mariazinha. Ali
ela ficava o restante do dia, esperando um cliente e outro que experimentasse o
seu doce de frade e depois matasse a sede na água da moringa no umbral da
janela. Todo dia isso, todo dia assim, na vida e no mundo de Mariazinha do
Doce. Hoje, no dia a dia salgado do tempo, Mariazinha já não está aqui, o seu
doce já não adoça os bons e velhos tempos. Tudo é só saudade.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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