*Rangel Alves da Costa
Continuo achando uma besteira essa conversa
de prato requintado para matar a fome. Somente quem já sentiu verdadeira fome
sabe o que significa um punhado de farinha ou um pedaço de carne seca. Ou mesmo
o que estiver ao alcance e sirva como alimento. Não é uma questão de luxo ou de
escolha, é de necessidade mesmo.
Nunca tive frescura com relação a qualquer
comida, pois saboreio com gosto aquilo que consigo encontrar na hora da fome.
Mas também não passo nem perto de restaurante metido a besta, com cardápio de
nomes estrambólicos e preços verdadeiramente aviltantes.
Eu queria entender por que existem pessoas
que se sujeitam aos preços de tais restaurantes. Ter dinheiro demais não
justifica deixar de usufrui-lo de maneira inteligente. Mostrar luxo,
importância e poder, também não justificam padecer diante de um prato de nada e
pagar até por ter pisado naquele chão.
Verdade que nos centros urbanos não há mais
locais que ofereçam bons pratos a preços justos. Por isso mesmo que as pessoas
se empanturram de massas oleosas nas lanchonetes e ambulantes. Como o tempo é
curto para seguir até suas casas na hora do almoço e não há como pagar sequer
prato feito todos os dias, então acabam se enchendo de óleo nas pastelarias.
Melhor sorte àqueles que procuram as feiras
livres e os restaurantes populares para o almoço. Em tais locais ainda é
possível comer fartamente, sem regras ou etiquetas, sair satisfeito e não
comprometer muito o salário do mês. Mas nada igual a saborear uma comida
caseira de mercado ou feira livre, cozida ou assada na hora, e sair com o
apetite e o bolso contentes.
Mas na hora da fome é mesmo difícil fazer
escolhas, pois a pessoa vai logo desejando tudo que encontrar pela frente. E
por isso mesmo incorre no erro de fazer más escolhas. Tendo dinheiro,
geralmente deixa de optar pelo trivial, pelo já conhecido, e se arrisca em
pratos diferentes. E já aconteceu de ter em sua frente uma sopa rala quando
desejava uma carne apetitosa.
Seja como for, a verdade é que evito qualquer
comida de rua, seja lanche ou almoço, principalmente em restaurante de luxo.
Prefiro passar fome a sentar numa mesa e torcer para que tenha boa aparência o
que for servido. Ademais, gosto de cozinhar, de inventar perante o fogão, mas
tudo à base de coisas simples.
Aliás, nunca tive exigências a respeito dos
pratos mais costumeiros. Tem gente que não come fígado de jeito nenhum, outros
evitam ao máximo carne de porco cozida ou assada. Alguns até viram o rosto
diante de uma panelada de sarapatel, enquanto outros sentem nojo por mocotó.
Tudo questão de gosto, que bem poderia ser posta à prova com a barriga vazia e
sem outra opção.
Sendo comida já conhecida, para mim tanto faz
que seja frita ou assada, ao forno, ao fogão de lenha ou no vapor. Gosto de
bife, lombo, carne assada, refogado, moído, de qualquer jeito. Aprecio a carne
de porco, de boi, de carneiro e ovelha. Gosto também dos miúdos do frango, da
buchada, do fígado, daquelas partes que antigamente apenas os escravos se
serviam como precioso alimento.
Saboreio com gostosura salsicha com ovos,
formando uma farinha. O ovo é bom de qualquer jeito, diga-se de passagem.
Sardinha em lata, mortadela, linguiça, tudo é gostosamente apreciado. Não há
nada melhor que um cuscuzinho com tripa de porco por cima ou mesmo com ovos e
manteiga espalhada. Resto de comida de ontem também ser como reinvenção,
surgindo porções deliciosas.
A comida não deve ser vista como uma questão
de escolha, mas de necessidade. E comer bem é escolher aquilo que realmente
sacie a fome, sem que necessariamente seja de prato caro. As comidas caseiras,
aquelas de cozinha, superam quaisquer outras que possam existir. No seu preparo,
a certeza do que vai ingerir e o sabor de fome que a pessoa vai acrescentar.
Depois é só escolher suco de cajá ou de
mangaba. E ao final um pedaço de goiabada para confirmar a doçura da boca.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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