*Rangel Alves da
Costa
Já não se
escreve mais cartinhas de amor, missivas cheias de saudades, daquelas que
faziam enrubescer e os olhos lacrimejarem. Uma cartinha assim:
Não sei
nem começar, com esse aperto danado do lado de cá. Quero dizer, quero gritar,
quero confessar, mas queria mesmo voar, ser passarinho e num instantinho lhe
abraçar.
Mas já que
tem de ser assim, que eu comece enfim. Meu amor, daí receba um abraço daqui. E
daquele tão apertado que o rosto fica colado e não quer mais apartar.
Saudade
danada, um aperto, uma pontada, coisa de causar desacerto. Nunca sofri tanto
assim, nem sei se estou mais em mim com essa tristeza sem fim.
Acredite
no que agora digo, o tempo é inimigo, a distância um cruel desabrigo. Nada traz
felicidade vivendo nessa saudade, sofrendo sem piedade. Quero voar sem ter asa,
não passo voltar pra casa, mas faço isso ou queimo em brasa.
É você de
noite e de dia e é quando tenho alguma alegria, pensando no seu sorriso, nesse
corpo paraíso, amar o que mais preciso. Cartinha é só pra lembrar, mas nunca
como falar bem juntinho a lhe abraçar.
Nunca
esqueço você, mas hoje bateu uma saudade, lembrança sem piedade, que ou
escrevia essa cartinha ou a noite me aporrinha. Estou tremendo agora, lágrima
botando fora, tristeza que chegou sem demora.
Escrever
não quer dizer nada, pois bom mesmo era a estrada para estar com você. Mais que
meu bem querer, o que sinto por você nem eu mesmo posso saber. A única coisa
que sei é que sem você não viverei.
Tão longe
daí, tudo difícil aqui, sofrendo sem merecer. Aí pertinho de você, mesmo o
padecer era coisa açucarada, era um tiquinho de nada, pingo de sal na cocada.
Fartura de felicidade, desejo por caridade e tanto amor de verdade.
De tanto
pensar, logo começo a lhe desenhar. Desenho no pensamento, no traço que me
alimento para diminuir o tormento. Risco uma boneca bonita, toda vestida de
chita, vento tomando o cabelo, sorriso de tanto zelo.
Vejo na
face uma fruta de sol, na água dos olhos eu pescando de anzol. Boca com sabor
de araçá, no resto do corpo a melhor fruta que há. Manga, cajá, sapoti, de toda
fruta há em ti.
O vento
acompanha seu passo, um roseiral espalhado em cada braço. Cada pisada no chão e
a brisa começa a soprar com paixão. Tenho ciúme sim, até quando a natureza se
encanta com sua beleza. Não sou o seu dono, mas por precaução nem penso em
sono.
Linda no
entardecer à janela, a vida olhando a mais bela donzela. Com olhos tristonhos
perdidos em sonhos, quem dera me guardando na mente como boa semente, quem dera
sentindo saudade de quem sente amor de verdade.
Penso na
janela fechada e você na cama deitada, penso na porta encostada e você na rede
espalhada. Penso no que possa sonhar e se no sonho eu possa estar. Penso em
você saindo, você sorrindo, você andando, você voltando. Penso em você
namorando...
Ai quanto
me dói pensar assim, pois seria o meu fim. Imaginar você segurando outra mão, não
só desfeita ao meu coração, mas a vida inteira de maior aflição. Não, meu amor,
que nunca aconteça, que eu nunca mereça ser traído e desapareça.
Confio em
você demais, beijar outra boca sei que seria incapaz, mas o mundo é cheio de
tentações, lastreando em tudo as devassidões, amores desfeitos e só restando
ilusões. Que tudo seja diferente, seja um amor confiante, sem que nenhum
rompante impeça que sigamos adiante.
Mando uma
fotografia, retrato tirado outro dia, mas que na face não tem alegria. E você sabe
o porquê, o motivo de tanto sofrer, dessa distância que me faz padecer. Mando
ainda uma lembrancinha, abra com cuidado e no quarto sozinha.
É apenas
um anel. Quem dera um paraíso, um céu. É apenas um anel, reluzindo a saudade de
um amor tão fiel. Com um beijo, um favo de mel.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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