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quarta-feira, 8 de novembro de 2017

MINHA LUTA PELO MEMORIAL


*Rangel Alves da Costa


Após o falecimento de meu pai Alcino Alves Costa, em novembro de 2012, eis que resolvi não deixar nem sua história nem sua memória ao acaso do tempo e do esquecimento. Ora, no sertão sergipano de Poço Redondo, no sertão inteiro e pelo Nordeste, ele era muito conhecido, reconhecido e valorizado.
Mesmo autodidata, tendo somente estudado até o quarto ano primário, Alcino acabou se constituindo num grandioso pesquisador dos fenômenos nordestinos, e estes de alcance nacional. Foi político afamado, tendo sido eleito três vezes prefeito de Poço Redondo. Foi ainda poeta, radialista, conferencista, letrista gravado por famosas duplas caipiras, mas principalmente, em escritor do mundo sertanejo.
Assim, sobre o fenômeno cangaço publicou os seus livros “Lampião Além da Versão – Mentiras e Mistérios de Angico”, “O Sertão de Lampião” e “Lampião em Sergipe”, que se tornaram referências necessárias na bibliografia nacional. Mas escreveu ainda “Poço Redondo – A Saga de Um Povo”, “Canindé do São Francisco – Seu Povo e Sua História”, “Preces ao Velho Chico”, “Sertão, Viola e Amor”, e o romance “Maria do Sertão”. Dentre suas obras inéditas estão “João dos Santos – O Caçador da Curituba”, “Canoas – O Caminho Pelas Águas”, “Lendas e Mistérios do Sertão” e “Vaqueiro, Cavalo e Boi”, além de diversos rascunhos e estudos inacabados acerca do cangaço.
Pois bem. Ao fundar o Memorial Alcino Alves Costa, meu objetivo maior foi preservar seu acervo em um espaço acessível a todos. Contudo, logo percebi que não poderia mostrar a vida de Alcino sem mostrar também o contexto sertanejo. Daí que o memorial em si foi ampliado e hoje retrata não só o homenageado como todo o sertão e aspectos relevantes da história nordestina.
Contudo, ante as dificuldades de manutenção daquele tão grande e valioso espaço, principalmente pela falta de apoio financeiro para os devidos cuidados e o andamento dos projetos, desde o final da semana passada que tomei uma decisão angustiante: fechar o Memorial até que surgisse alguma ajuda financeira. Então publiquei o seguinte:
“Lamento informar, mas até que eu consiga algum apoio, patrocínio, colaboração, ou mesmo celebre algum convênio com órgão público ou qualquer outra entidade, o Memorial Alcino Alves Costa estará de portas fechadas. Durante três dias na semana uma funcionária abria, fazia a limpeza e permanência no local durante os dois turnos, mas ela resolveu sair e não pretendo contratar outra para abrir apenas segunda, quarta e sexta, mas durante todos os dias úteis da semana. Ademais, os gastos são muitos com acervo, com pequenas reformas, com a manutenção em si e com o pagamento de serviços básicos. E sozinho fica muito difícil arcar com todas as despesas. Neste momento, por exemplo, está sendo e vai continuar sendo ampliado. E, mesmo fechado, não vou parar de enriquecer o seu acervo. Resta esperar a sensibilidade das pessoas, da classe empresarial e dos órgãos públicos no sentido de possibilitar o pleno funcionamento deste espaço que tanto enriquece a história e a cultura de Poço Redondo e de todo o sertão. Só para lembrar, o Memorial Alcino Alves Costa é uma entidade legal, sem fins lucrativos, registrado no cadastro das pessoas jurídicas, denominação popular da Associação Cultural Memorial Alcino Alves Costa”.
Mas de lá para cá nada aconteceu. Quer dizer, ninguém se manifestou no sentido de ajudar, nenhum órgão público ou gestor me procurou. Então fui forçado a rever a decisão tomada. E hoje publiquei:
“O Memorial Alcino Alves Costa continua fechado. Somente eu para saber o tamanho do sofrimento perante tal situação. Mas já na sexta-feira o reabrirei como vinha sendo feito antes, funcionando apenas três dias na semana. Não há outro jeito. Eu poderia esperar mil anos e nenhum auxílio chegaria. É que há uma terrível cegueira perante a história, a cultura, as tradições. Todo mundo fala na importância da preservação histórico-cultural, porém ninguém ajuda a preservar o que se tem. É um interesse e uma preocupação somente da boca pra fora. Na hora de ajudar, nada. E eu queria muito pouco, apenas que algum auxílio permitisse ter uma funcionária que abrisse suas portas de segunda a sexta. Pagando o que já pago, juntando outro pouco, talvez desse para manter alguém que cuidasse daquele tão importante espaço. Mas parece até impossível que assim aconteça. Mas é melhor deixar pra lá. Na sexta-feira mesmo já irei procurar uma pessoa que se amolde ao perfil do Memorial, não só para limpeza como para recebimento dos visitantes. E trabalhando segunda, quarta e sexta. E também na sexta-feira já levarei outras pequenas artes que estou produzindo e só falta mesmo colocar na moldura. Todas serão colocadas na Sala Arte da Terra”.
Assim, o Memorial Alcino Alves Costa será novamente reaberto. Continuará sem apoio, ajuda, parceria ou colaboração. Mas assim mesmo. Esta é minha luta.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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