*Rangel Alves da Costa
Após o falecimento de meu pai Alcino Alves
Costa, em novembro de 2012, eis que resolvi não deixar nem sua história nem sua
memória ao acaso do tempo e do esquecimento. Ora, no sertão sergipano de Poço
Redondo, no sertão inteiro e pelo Nordeste, ele era muito conhecido,
reconhecido e valorizado.
Mesmo autodidata, tendo somente estudado até
o quarto ano primário, Alcino acabou se constituindo num grandioso pesquisador
dos fenômenos nordestinos, e estes de alcance nacional. Foi político afamado,
tendo sido eleito três vezes prefeito de Poço Redondo. Foi ainda poeta,
radialista, conferencista, letrista gravado por famosas duplas caipiras, mas principalmente,
em escritor do mundo sertanejo.
Assim, sobre o fenômeno cangaço publicou os
seus livros “Lampião Além da Versão – Mentiras e Mistérios de Angico”, “O
Sertão de Lampião” e “Lampião em Sergipe”, que se tornaram referências
necessárias na bibliografia nacional. Mas escreveu ainda “Poço Redondo – A Saga
de Um Povo”, “Canindé do São Francisco – Seu Povo e Sua História”, “Preces ao
Velho Chico”, “Sertão, Viola e Amor”, e o romance “Maria do Sertão”. Dentre suas obras inéditas estão “João dos
Santos – O Caçador da Curituba”, “Canoas – O Caminho Pelas Águas”, “Lendas e
Mistérios do Sertão” e “Vaqueiro, Cavalo e Boi”, além de diversos rascunhos e
estudos inacabados acerca do cangaço.
Pois bem. Ao fundar o Memorial Alcino Alves
Costa, meu objetivo maior foi preservar seu acervo em um espaço acessível a
todos. Contudo, logo percebi que não poderia mostrar a vida de Alcino sem
mostrar também o contexto sertanejo. Daí que o memorial em si foi ampliado e
hoje retrata não só o homenageado como todo o sertão e aspectos relevantes da
história nordestina.
Contudo, ante as dificuldades de manutenção
daquele tão grande e valioso espaço, principalmente pela falta de apoio
financeiro para os devidos cuidados e o andamento dos projetos, desde o final
da semana passada que tomei uma decisão angustiante: fechar o Memorial até que
surgisse alguma ajuda financeira. Então publiquei o seguinte:
“Lamento informar, mas até que eu
consiga algum apoio, patrocínio, colaboração, ou mesmo celebre algum convênio
com órgão público ou qualquer outra entidade, o Memorial Alcino Alves Costa
estará de portas fechadas. Durante três dias na semana uma funcionária abria,
fazia a limpeza e permanência no local durante os dois turnos, mas ela resolveu
sair e não pretendo contratar outra para abrir apenas segunda, quarta e sexta,
mas durante todos os dias úteis da semana. Ademais, os gastos são muitos com
acervo, com pequenas reformas, com a manutenção em si e com o pagamento de
serviços básicos. E sozinho fica muito difícil arcar com todas as despesas.
Neste momento, por exemplo, está sendo e vai continuar sendo ampliado. E, mesmo
fechado, não vou parar de enriquecer o seu acervo. Resta esperar a
sensibilidade das pessoas, da classe empresarial e dos órgãos públicos no
sentido de possibilitar o pleno funcionamento deste espaço que tanto enriquece
a história e a cultura de Poço Redondo e de todo o sertão. Só para lembrar, o
Memorial Alcino Alves Costa é uma entidade legal, sem fins lucrativos, registrado
no cadastro das pessoas jurídicas, denominação popular da Associação Cultural
Memorial Alcino Alves Costa”.
Mas de lá
para cá nada aconteceu. Quer dizer, ninguém se manifestou no sentido de ajudar,
nenhum órgão público ou gestor me procurou. Então fui forçado a rever a decisão
tomada. E hoje publiquei:
“O Memorial Alcino Alves Costa continua
fechado. Somente eu para saber o tamanho do sofrimento perante tal situação.
Mas já na sexta-feira o reabrirei como vinha sendo feito antes, funcionando
apenas três dias na semana. Não há outro jeito. Eu poderia esperar mil anos e
nenhum auxílio chegaria. É que há uma terrível cegueira perante a história, a
cultura, as tradições. Todo mundo fala na importância da preservação
histórico-cultural, porém ninguém ajuda a preservar o que se tem. É um
interesse e uma preocupação somente da boca pra fora. Na hora de ajudar, nada.
E eu queria muito pouco, apenas que algum auxílio permitisse ter uma
funcionária que abrisse suas portas de segunda a sexta. Pagando o que já pago,
juntando outro pouco, talvez desse para manter alguém que cuidasse daquele tão
importante espaço. Mas parece até impossível que assim aconteça. Mas é melhor
deixar pra lá. Na sexta-feira mesmo já irei procurar uma pessoa que se amolde
ao perfil do Memorial, não só para limpeza como para recebimento dos
visitantes. E trabalhando segunda, quarta e sexta. E também na sexta-feira já
levarei outras pequenas artes que estou produzindo e só falta mesmo colocar na
moldura. Todas serão colocadas na Sala Arte da Terra”.
Assim, o Memorial Alcino Alves Costa será
novamente reaberto. Continuará sem apoio, ajuda, parceria ou colaboração. Mas
assim mesmo. Esta é minha luta.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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