*Rangel Alves da Costa
Nos templos sagrados, pelas sacristias, nos
monumentos antigos, nas entranhas, paredes e portais de colossais construções,
até mesmo em sarcófagos, em tudo uma desmedida arte sexual.
Todas as posições sexuais, das mais singelas
às mais bizarras, das mais rotineiras às mais esdrúxulas, talhadas, pintadas ou
desenhadas em cavernas, em grandiosidades arquitetônicas da antiguidade, em
mosteiros, em palácios e santuários.
Livros, revistas, manuscritos, códigos, manuais,
guias, páginas e mais páginas não só contendo o sexo em todas as formas como
descrevendo as conveniências e os entraves de cada posição do ato amoroso, ou
do verdadeiro embate entre corpos sedentos ou forçados aos prazeres.
Prostitutas, moças, rainhas, princesas,
mulheres casadas, amantes, meretrizes de luxo, tudo numa imensa listagem
daquelas que fama fizeram pelos seus dotes sexuais, modos de agir
profissionalmente ou seus casos amorosos de alcovas e escondidos.
Bacanais da nobreza, festins da carne pelos
imensos salões, surubas descomunais, orgias estarrecedoras, perversões de toda
ordem, um mundo de reis, rainhas e burgueses, e até religiosos, numa só
depravação. O sexo pelo sexo, apenas. O prazer pelo prazer, apenas.
O Kama Sutra ilustra bem essa aptidão
desenfreada ao sexo. Este famoso livro sobre o desejo e a propensão humana ao
sexo, tornou-se manual de libertinagem pela detalhada ilustração contendo
múltiplas posições sexuais. Mas o que horroriza a muitos, apenas uma
normalidade rotineira muito além dos bordéis.
Os bordéis, aliás, sequer se comparam aos
demais quartos e locais de prazer. As aptidões e as ofertas das prostitutas,
por serem quase como ritualísticas de posição a posição, são até inocentes
demais perante o que celibatários e conservadores costumavam fazer nos seus
escondidos. Se assim com os ditos castos, impossível de se imaginar entre os
verdadeiros depravados.
A história testemunha a depravação absoluta
de classes tão poderosas como famintas por sexo. Messalina não escondeu de
ninguém sua devassidão. Rainhas poderosas somente eram felizes por causa de
seus inúmeros amantes, e muitas vezes se entregando sem constrangimento algum
perante a realeza. Ora, nos festins reais, tanto se comia da mesa como de
debaixo das roupas.
A verdade é que o sexo causou guerras,
derrubou impérios, enlouqueceu reis e rainhas, burgueses e nobres, sacerdotes e
serviçais. Os haréns comprovam o tamanho da sede e da fome perante as carnes
novas e escolhidas entre as que desejassem. As escadarias dos templos sagrados
serviam como pontos para o comércio do sexo, e aquelas mulheres vistas até como
prometidas dos deuses.
Está, pois, no percurso da história do sexo,
a demonstração maior de que, ao menos com relação ao prazer da carne, nunca
houve um período característico ou diferenciado do outro, apenas numa sequência
de aprimoramento daquilo que é desejado desde os primórdios. Quer dizer, o sexo
sempre esteve em máxima evidência em todo tempo e era.
Portanto, termos como prostituição, erotismo,
pornografia, libertinagem, devassidão, meretrício, bacanal, orgia, depravação,
vagabundagem, corrupção da carne, fornicação, luxúria, pecado, adultério,
lascívia, sempre estiveram em alta na história. E quanto mais o sentido
apelativo do sexo mais a afluência das pessoas.
Significa dizer, por fim, que o que se tem
hoje como explosão sexual ou quase uma geral liberalização do prazer carnal,
nada mais é que um percurso que se prolonga desde os tempos mais antigos. Ora,
o sentido do sexo é o mesmo. Ainda que se fale em libertinagem, nada comparável
ao que já estava talhado nos templos e desenhado naquele famoso livro de posições
sexuais, o Kama Sutra.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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