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domingo, 7 de janeiro de 2018

IGREJA, RELIGIÃO E FÉ


*Rangel Alves da Costa


De antemão, necessário afirmar que o ser humano dificilmente tem o direito de escolher o Deus de sua fé, a sua Bíblia, os seus Evangelhos e o seu próprio primado de fé. Tudo é imposto pelo Vaticano. O que seja do interesse da Igreja Católica Apostólica Romana, então é repassado como verdades impositivas e dogmas irrefutáveis.
Sob tal premissa, a escolha da fé já vem ao ser humano como prato dado pela Igreja. E, perante uma imensa maioria de pessoas sem conhecimento filosófico, científico ou religioso, o que é dado é recebido como verdade absoluta. Se a Igreja diz que é assim, então assim tem que ser. Se o Papa diz que é assim, então não há do que duvidar. Mas será que deve ser assim mesmo?
O que a Igreja sempre fez ao longo de sua história foi disseminar perante as pessoas não os verdadeiros ensinamentos sagrados, segundo os passos de um Jesus humano, peregrino e pregador, mas de um Jesus filho de Deus e falando por sua voz. E perante a Igreja um Deus apontando o dedo para dizer o que é certo e o que é errado, o que é pecado e o que é absolvição, o que o ser humano deva ou não fazer. Assim, a Igreja elege seus dogmas, repassa-os aos mortais e, através disso, posiciona-se como guardiã da palavra sagrada. Um sagrado nascido basicamente por mera conveniência.
Citando um exemplo, a Igreja inventou uma lista de pecados, apontando até sete pecados capitais (inveja, soberba, gula, avareza, luxúria, ira e preguiça), que não é avistada em nenhum lugar da Bíblia. O que esta diz é que algumas ações humanas, como a idolatria e a depravação, são abomináveis aos olhos de Deus. Foi o Papa Gregório I que, a partir de uma lista de pecados surgida nos anos 300, elegeu os chamados sete pecados capitais. Quer dizer, a Igreja vai moldando aquilo que é do seu interesse e repassa como ensinamento sagrado.
Talvez não seja do interesse da Igreja disseminar com a mesma magnitude aquilo que verdadeiramente Deus abomina e que, desta vez sim, consta em Provérbios 6:16-19: “Seis coisas o SENHOR aborrece, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos”. Há de se indagar, então: Por que os sete pecados criados pela Igreja são mais disseminados do que aqueles contidos na Bíblia?
Ora, a própria Bíblia Católica jamais surgiu no feitio que é conhecida. O que se tem como Bíblia Sagrada foi, igualmente, criação da própria Igreja a partir da escolha de textos antigos e evangelhos de seu interesse. Como uma censora perante mil páginas para formar um livro de apenas cem, a Igreja foi cortando tudo aquilo que não era do seu interesse e coligiu aquilo que seria a base de seus ensinamentos. E o que fizeram dos outros escritos e evangelhos, hoje tidos como evangelhos apócrifos? Simplesmente negaram a sua validade, vez que contendo relatos conflitantes com os seus interesses.
Somente interessa a Igreja aquilo que separa o humano do sagrado. O Jesus humano não possui qualquer interesse por que incorreria em saber, por exemplo, qual o seu verdadeiro relacionamento com Maria Madalena, como era sua família e se tinha outros irmãos. Importa apenas o sagrado, o filho de Deus. Separando o sagrado do humano fica mais fácil falar em pecado, em tornar o homem submetido ao que está contido na Bíblia escolhida e é repassado pela Igreja. Outro objetivo não é senão fidelizar a humanidade. Impor a fé no homem.
O próprio conceito de fé, ao inserir no seu contexto a fidelidade do homem ao sagrado, implica em obediência ao que a Igreja formulou como validade. Para assegurar a fé como obediência, a Igreja dissemina o medo e espalha noções de corrupção moral, carnal, o pecado enfim. E mais: que o homem somente será salvo perante o seu ajustamento ao que a Igreja preceitua como agradável aos olhos de Deus. Mas será que Deus queria que a Igreja expurgasse alguns evangelhos e elegesse somente outros? Será que aos olhos de Deus soa como boa a conduta pecadora da própria Igreja? Acrescente-se que os pecados cometidos pelos religiosos são, em proporção ao juramento eclesiástico, muito mais graves que todos os demais.
Seria uma questão de a Igreja não querer enxergar os seus próprios erros. Impõe, submete, prega o medo através do pecado, mas parece não temer o cometimento dos mesmos pecados pelos seus membros, e tanto assim que sempre tratou tais questões como segredos e sigilos. Então, se pergunta se é esta Igreja que tem moral de conversão, que tem capacidade de alimentar a fé humana, que pode se dizer mensageira da palavra sagrada. Aparências que não comungam com a realidade.
Portanto, o Deus de cada um deve ser escolhido pelo próprio sujeito, perante sua crença e sua fé. A sua Igreja é o seu coração e a sua Bíblia é o seu comprometimento moral com a própria vida.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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