SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Palavra Solta - retrato em azul


*Rangel Alves da Costa


Tenho diante de mim um retrato de uma paisagem de Curralinho, povoação ribeirinha de Poço Redondo, no sertão sergipano. Na poética fotografia de Maristela Mafuz (esposa do amigo Aderbal Nogueira), quando de sua visita aos sertões poço-redondenses, uma paisagem emoldurada em três feições: o sertão, a fé e o rio. O sertão imenso às margens e acima de um azul que corre e escorre a esperança em meio à aridez dos cactos, caatingas, plantas rasteiras e montes arejados da cal do tempo. A fé na cruz e no templo. A fé na madeira de braços abertos perante o outro sagrado azul nas paredes centenárias da Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Pedra sobre pedra, no suor e na força da fé, os alicerces fincados e levantados pelos missionários guiados por Antônio Conselheiro. Dois azuis são avistados: do templo e do rio. As mesmas cores do céu lastreado do branco das nuvens e como manto maior que se estende além do rio, além dos montes, além das matas, além de tudo. Abaixo, em cada vez mais estreita passagem, o rio e seu percurso. Ao longe, apenas uma lâmina azul querendo seu lugar na paisagem. Mas é muito mais. Ali o passo do Velho Chico, do São Francisco, do Rio da Vida. Um dia caminho de vapores, chatas, canoas, embarcações de todos os tamanhos e tipos. E nas alturas das calçadas antigas de Curralinho do passado, aqueles olhares cheios de alegrias e encantamento pelas águas que se abriam para a vida passar. Um tempo antigo no retrato de agora. E não há retrato mais belo.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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