*Rangel Alves da Costa
Perante o meu olhar, uma fotografia do Rio
São Francisco e suas beiradas, com algumas embarcações e um leito raso de água.
Lá em Bonsucesso, povoação sertaneja em Poço Redondo. Mas poderia ser em
Curralinho, em Cajueiro, em Jacaré. Aquele que avista a fotografia logo se
enche de encantamento. Não poderia ser diferente, pois tudo emoldurado numa
beleza poética sem igual. O Velho Chico, mesmo padecente como está agora, magro
e ossudo e com suas veias esvaídas, não deixa de encantar o seu beiradeiro e o
seu visitante. Logo o espírito e alma bebem da magia do alvorecer e do
entardecer. Verdadeiramente não há cenário mais mágico e cativante. Contudo,
seria preciso avistar além da moldura para adentrar nas raízes do próprio rio,
de seu meio e de seu habitante. A pintura de cores vivas se mostra apenas uma
aparência. Há, na alma do rio e do seu povo, um âmago tomado por sensações
muito diferentes daquelas tidas apenas pela visão do cenário. É um rio que
sofre e um povo que sofre, é um rio que pranteia e um povo que chora, é um rio
que vai se exaurindo nos braços aflitos de seu ribeirinho. Somente quem vive o
dia a dia conhece a real situação. Somente quem nasceu e se criou nas suas
beiradas conhece a dor da saudade de um passado de águas grandes, piscosas,
cheias de vida e de embarcações. Hoje há apenas um leito. E quase de morte. Os
vapores não passam mais, os navegantes seguiram outro porto. Cadê o surubim, há
de se perguntar. Tudo passou, tudo seguiu na curva do rio. E nas beiradas ficou
o seu habitante, o beiradeiro, o ribeirinho. Aquele que sorri no olhar e chora
no coração.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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