*Rangel Alves da Costa
Apenas 14
dias se passaram do adeus de Dona Zilda, para que Seu João, talvez não
suportando a dor da partida, seguisse ao encontro de sua amada, depois de
casados por mais de sessenta anos. Os filhos e netos, nem sempre compreendendo
as forças do destino, redobraram as lágrimas e os prantos pela triste
proximidade na despedida dos seus.
Mas Seu
João, ele mesmo profundamente enlutado pelo sofrimento inseparável, já havia
confessado que não conseguiria viver sem sua Zilda e desejava ir logo ao
encontro daquela que ao seu lado conviveu por mais de 60 anos. Na sua feição e
no seu semblante, uma dor suportada apenas pela presença dos seus, pois sempre
rodeado por netos e bisnetos.
Era como
se estivesse desfalecendo sem nenhum mal repentinamente surgido. E talvez como
consequência desse sofrimento dilacerante, mais um triste acontecimento, poucos
dias após do adeus de sua amada. No mesmo caminho da primeira partida, também a
segunda despedida, tudo como se um seguindo o outro num encontro marcado noutra
existência.
Eis os
indecifráveis mistérios na vida e na morte, no amor e na separação, no adeus e
na despedida. Quem diria que aquele casal, tão poço-redondense como o natural
do lugar, pois já na terra sertaneja desde mais de quarenta anos, avistado
sempre ali à porta de casa, debaixo do sombreado do pé de pau e sempre na
companhia de filhos, netos e amigos, de repente se tornasse apenas em saudade?
Verdade
que Dona Zilda já vinha convalescendo desde que uma enfermidade lhe acometera,
mas ainda perto dos seus e de Seu João, seu esposo. Quando de sua partida, foi
como se as cadeiras fossem esquecidas dentro de casa e apenas Seu João de vez
em quando, nos entardeceres sertanejos, continuasse sendo avistado ali
sentadinho, em silêncio profundo, com olhar triste e distante, nas lonjuras que
somente ele poderia desvendar, mas certamente mirando ainda a face do retrato
maior em sua vida: Dona Zilda.
E
continuamente chorava, todos os dias pranteava sua saudade. Mas a dor da
saudade já se fazia dilacerante demais. Somente sabe a dor da separação pela
morte aquele cuja vida se partira em pedaços pela partida de sua outra vida.
Assim estava Seu João, apenas a melancolia em pessoa, apenas a tristeza e
saudade num ser ainda vivente. Mas não suportou. Estenderam-lhe a mão e partiu.
Espantados,
tomados de novo e doloroso grito, os filhos não acreditaram que tamanha dor
pudesse ocorrer em tão pouco tempo. Os filhos não compreenderam, contudo, que o
destino assim escrevia a história de duas vidas com ponto inicial e final numa
só página. Mas as outras páginas contam uma história tão bela e de um amor tão
profundo que é difícil conhecer em corações tão humildes e sertanejos.
Assim, na
proximidade dos dias, partiram Zilda Alcântara Patriota, mais conhecida como
Dona Zilda, no dia 10 de dezembro, e João Luiz da Silva, comumente conhecido
como Seu João, este no dia 24 de dezembro de 2017. O casal teve seis filhos,
dezessete netos e onze bisnetos. Beto Patriota, Márcia, Mércia e Edna, são
alguns dos filhos deste casal que semeou história e deixou saudades em Poço
Redondo.
Partiram,
porém deixaram uma prole valorosa para a vida sertaneja. Não apenas nos
sobrenomes, mas nas qualidades essenciais em pessoas que dignificam serem da frondosa
raiz de Dona Zilda e de Seu João.
Assim,
entre estes, o mesmo amor e a mesma união, perante a vida, perante a morte. E
juntos agora no sagrado lar.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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