*Rangel Alves da Costa
Já não estou onde gostaria de estar. Não fui
a lugar nenhum, mas não permaneço mais. Não sei por que assim acontece, mas fui
banido dos sonhos, fui degredado da estrada, fui expatriado de mim mesmo. Que
desterro mais cruel. Um ser humano e sua forçada ilha. Um ser humano e o seu
mundo indesejado. O que mais dóis, contudo, não é a ausência de onde eu queria
estar, mas a presença em reclusão da alma, que se afeiçoa ao mais tenebroso
exílio. Tive que deixar para trás os desejos de menino, tive que abdicar dos
desejos do adulto, tive que me afastar daquilo mínimo que eu queria ter. Paz,
apenas. Ou paz como tudo. A paz de uma rede na varanda, a paz de um adormecer
sossegado, a paz de uma leitura sentado num pé de pau, a paz de um banco de
praça, a paz de um pássaro cantado ao redor. Que mundo é este, que vida é esta
onde não se tem mais paz? Não posso abrir a porta, não posso abrir a porta, não
posso abrir a janela, não posso sentar à calçada nem caminhar debaixo da lua
grande. Não posso escrever poesia nem uma prosa fantasiosa, pois tudo realista
demais. E num real que assusta, que amedronta, que espanta. E que nos torna em
exílio forçado. Ter a vida, querer viver e não poder. Impossível retornar ao
chão firme de um sensível coração. De alma embrutecida pelos outros e pelas
realidades do mundo, abdico de comungar com as violências. Por medo e por não
haver outra vida além da vida. Por isso mesmo a canção forçada no peito, no
espírito, na alma. O exílio, enfim.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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