*Rangel Alves da Costa
Quando se fala em evento do Cariri Cangaço,
aqueles que nunca participaram de seus percursos nem de suas rotinas,
certamente imaginarão um encontro de pesquisadores e apaixonados pelo cangaço
ou outro tema nordestino, e estes envoltos em discussões, palestras e debates.
Também assim, mas é muito mais. É infinitamente mais e maior que tudo aquilo que
possa imaginar quem ainda não teve o prazer e a honra de ostentar sobre o peito
o distintivo de participante.
Basta saber que não há aquele que participou
uma vez e não tenha vontade de novamente reencontrar o belo e fascinante mundo
do Cariri Cangaço. É curiosidade que se torna em prazer, é encanto que se torna
em hábito, é costume que se torna em verdadeira necessidade de estar sempre
presente e interagindo com as páginas abertas de um grande livro. Páginas sobre
o cangaço, sobre o misticismo nordestino, sobre a musicalidade de raiz, sobre
os conflitos sociais sertanejos, sobre vastos personagens que deram o mote na
escrita da história.
Como bem afirmado na sua apresentação
oficial: O Cariri Cangaço é um evento de cunho turístico-cultural e histórico-científico
que reúne os mais destacados pesquisadores e historiadores das temáticas sobre
o cangaço, coronelismo, misticismo, messianismo e correlatos ao sertão e ao
Nordeste do Brasil, configurando-se como o maior e mais respeitado evento do
gênero no país.
Mas nada acontece ao acaso. Nenhum local
escolhido para os eventos de cada ano, já estará pronto para receber os
participantes - ou caririenses - se não houver um longo e cuidadoso trabalho de
campo, de conhecimento, de delimitação, de escolhas e confirmações. E
inicialmente cabe ao menestrel Manoel Severo, responsável maior pelo sucesso de
todo e qualquer evento, realizar todo um trabalho de pesquisa e de contatos,
projetando daí as datas, os patrocínios, os locais de estadia, as visitações
preliminares aos destinos históricos e culturais, a escolha dos eventos de cada
dia, as palestras e os palestrantes, as homenagens, toda a programação, enfim.
E depois disso, ainda sob a batuta de Manoel
Severo, sempre consultando e ouvindo o Conselho Consultivo do Cariri Cangaço, bem
como as comissões e autoridades locais, toda a programação passa a ser
divulgada e o chamamento aos interessados soando como um grito de “Gado no
pasto, mas dessa vez a cabroeira vai estar em... em Juazeiro, em Crato, em
Barbalha, em Missão Velha, em Aurora, em Barro, em São José de Princesa, em
Porteiras, em Lavras da Mangabeira, em Sousa, em Nazarezinho, em Lastro, em
Água Branca, em Piranhas, em Exu, em Floresta, dentre outros locais. E também,
ainda este ano, em Serra Talhada, em Poço Redondo, em São José do Belmonte, em
Fortaleza, e até Portugal”.
Ao chegar as datas, as viagens que são como
verdadeiros passeios histórico-culturais pelas distâncias nordestinas. E na
chegada os reencontros, os abraços, as boas surpresas, os convívios durante
aqueles dias. Os hotéis e as pousadas, como casas destinadas exclusivamente aos
participantes, transformam-se em verdadeiras varandas para os proseados, os
saudosismos, as dúvidas que são tiradas na boca do forno. Mesas de café da
manhã onde todos se juntam e entre um cuscuz e uma fruta, uma xícara de café e
um copo de suco, vão se irmanando ainda mais, afeiçoando ao que Severo
acertadamente chama “Família Cariri Cangaço”.
A partir de então e durante os dias
seguintes, a família Cariri Cangaço passa a cumprir os rituais e os percursos
da programação. As manhãs e as tardes geralmente são destinadas às visitações,
através de deslocamentos até os locais históricos que fazem parte do contexto
do tema escolhido. Locais de embates cangaceiros, casarões coronelistas,
povoações cujas sagas continuam vivas na memória e na história, marcos de um
passado sangrento ou glorioso, museus, memoriais, igrejas, capelas, fundações
de um tempo de homens valentes e destemidos. Os deslocamentos em ônibus
destinados exclusivamente aos participantes são uma festa à parte, onde cada
percurso se torna prazeroso pelo convívio alegre e harmonioso entre todos.
São nos debates e nas palestras que surgem as
surpresas, as novas teses, os novos desvendamentos, as revelações. A dita e a contradita,
a aceitação e a contestação, vão aclarando os conhecimentos e fazendo surgir
novos olhares sobre temas já tidos por muitos como de única feição. Assim,
verdadeiros livros vão sendo escritos a cada Cariri Cangaço surgido, ali mesmo,
no calor da hora e da força expositiva. Mas nada mais gracioso e singelo que as
homenagens promovidas pela Família Cariri. Nos olhos e no pulsar de cada
homenageado a profunda sensação de alegria e prazer. E surgem os merecidos
aplausos, mas principalmente as lágrimas, as muitas lágrimas.
E após participar de alguns eventos
caririenses, eu confesso agora que fui descobrindo os motivos de o meu pai
Alcino Alves Costa sempre retornar com o ânimo refeito após cada viagem que
fazia. Voltava feliz pelos amigos reencontrados, pela estadia entre os seus,
pelos novos conhecimentos que trazia. Voltava feliz pelo convívio com sua
Família Cariri Cangaço.
Escritor
Conselheiro Cariri Cangaço
blograngel-sertao.blogspot.com
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