*Rangel Alves da Costa
Em Poço Redondo, cidade interiorana no sertão
sergipano, ou a pessoa tem medo ou terá sua coragem roubada a qualquer
instante, principalmente depois do anoitecer. Quem tem coragem de estender uma
esteira na calçada e adormecer até a madrugada chegar? Quem tem coragem de
colocar cadeira na calçada para cochilar enquanto a brisa da noite passa? Quem
tem coragem de sentar no beiral da porta ou na calçada com o seu celular à mão?
Quem tem coragem de ir fachear rolinha na escuridão sertaneja? Quem tem coragem
de brincar de pegar de boi na escuridão dos quintais e arredores? Depois que a
noite cai e mesmo durante o dia, não faz medo passar pelo cemitério nem pela
casa mal-assombrada, mas que ninguém se atreva a caminhar muito entre os vivos
ou imaginar que estes não assustam. Poço Redondo se transformou num lugar onde
a paz e o sossego já não existem mais nem dentro nem fora de casa. Tudo agora
assusta, tudo é violência, tudo é desassossego. Antigamente, o medo era do
cavaleiro da noite, do fogo-corredor, da “visage”, mas agora o temor é do vivo
mesmo. O cavaleiro da noite passava trotando de riba a baixo, todo mundo ouvia
e ninguém via. Mas agora basta ouvir o barulho de uma moto de repente chegando
e o povo já pensa que vem coisa ruim. E vem mesmo.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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