*Rangel Alves da Costa
O MENINO E A EX-CANGACEIRA - “Adília, a
ex-cangaceira e tão amiga de minha família, saía de casa e o filho de Dona Peta
grudado na beirada de seu vestido. E com ela eu seguia em direção ao Alto,
depois do riachinho. A tarde inteira zanzando de canto a canto, mas o que mais
eu gostava de fazer era pedir que ela sentasse ao chão, com as pernas
estendidas, de modo que eu pudesse encher de água uma pequena fundura que havia
numa de suas pernas. E depois, menino sem saber de nada, simplesmente bebia
daquela cacimba aberta no osso. Não sabia que ali um resquício dos tempos do
cangaço, um tiro adentrado no osso que havia deixado aquela marca. E eu
brincando, sempre acolhido como filho, no colo e estirado nas pernas daquela
tão saudosa amiga. Sim, Adília era minha amiga. Amiga de uma criança, filho de
Alcino e Peta, que ela cativava e cuidava como filho seu. Nem parecia ser uma
ex-cangaceira do bando de Lampião, companheira de Canário e rasgando os
carrascais no seu passo. Nada disso eu sabia àquela época. Depois de crescido e
que fiquei sabendo, que honra maior ainda levada comigo. Assim, um dia, o
menino e a ex-cangaceira...”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário