*Rangel Alves da Costa
O sino pode bradar a qualquer instante, seja
chamando à missa seja anunciando um acontecimento qualquer, mas é após a boca
da noite, na hora da Ave Maria, já sob a luz do luar, que sua simbologia se
expressa com maior pujança e tenacidade. Ao menos nas cidades interioranas é
assim. O café no fogo, a panela sendo mexida, a roupa sendo retirada do varal,
o prato sendo lavado, a visita que chega em imprevisto, tudo é parado quando o
sino da Ave Maria começa a tocar. Ao longe ou pertinho, é como se o dobrar gritasse,
chamasse, segredasse, quisesse falar. É como se os anjos voejassem sobre as
cabeças, os santos chegando em procissão, um Deus avistado em face de luz. Os
corações se desarmam, os corações se humanizam, os sentimentos afloram, a fé se
expande em mil cruzes de devoção. Ali pertinho, os pés logo ajoelhados perante
o oratório, a vela acesa, os dedos contando o rosário, a fé maior em oração. Um
céu desce e se abre perante olhares humildes, singelos, sofridos. Muitas vezes
lágrimas devotas descem por alguma saudade. É a hora mágica de um amor
entronizado num pedestal de luz. E Deus estendendo sua mão perante todo o
sertão.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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