Rangel Alves da
Costa*
Aqui do
alto da montanha olho ao redor e sinto quanto o mundo é pequeno demais perante
o que está acima de mim e da montanha.
Aqui do
alto da montanha avisto ao redor e sinto o quanto do acima de mim e da montanha
está espalhado por todo lugar.
Aqui do
alto da montanha, imaginando estar no mais elevado dos cumes, eis que me sinto
apenas acima dos meus pés descalços.
Aqui do
alto da montanha, sinto, pois, que sou apenas o grão no sopro da vida, a
partícula em meio à existência, o pó ante um vento qualquer.
Aqui do
alto da montanha, contudo, sou além do grão, da partícula, do pó. Sou quem
deseja que eu seja aquele que está acima de mim e da montanha.
Aqui do
alto da montanha ouço a voz do vento, a cantiga da brisa, a palavra do
silêncio, o chamado da paz. E tudo me chega num verbo encantado e fascinante.
Aqui do
alto da montanha vejo um jardim logo ao lado, uma flor ao redor, um pássaro
voando, uma borboleta de mil cores. Quem será tão primoroso jardineiro?
Aqui do
alto da montanha avisto um condor que voando vai cada vez mais alto. Sumindo no
espaço, não sei se recordará da prece que envio aos pés do altar.
Aqui do
alto da montanha avisto o rio, o mar, o oceano. Aqui do alto avisto um campo de
relvas e uma colina. E tudo avisto como se uma mão ainda moldasse tanta
perfeição.
Aqui do
alto da montanha, de braços abertos e olhos voltados ao alto, tremulo os lábios
e não sei se canto ou louvo uma presença maior que a tudo envolve.
Aqui do
alto da montanha, sinto que entrecortando o silêncio me chega um sino de
catedral. E além dos portais ocultos uma eucaristia sobre um Deus que é a
montanha e tudo.
Aqui do
alto da montanha fico imaginando sobre aqueles que ainda não subiram ao cume.
Então sei por que tanta descrença na existência, no mundo e nas belezas da
vida.
Aqui do
alto da montanha enxergo pessoas lá embaixo caminhando sem direção. Não todos,
mas sei que muitos algum dia sentirão necessidade do alto dessa montanha.
Aqui do
alto da montanha consigo avistar as curvas dos caminhos e os labirintos nas
estradas. Somente daqui do alto se percebe o quanto a montanha ensina saber
caminhar.
Aqui do
alto da montanha sei o quanto é difícil a subida e mais difícil ainda subir
mais alto, lá depois das nuvens e adiante. Mas também que basta desejar e o
mais alto alcançar.
Aqui do
alto da montanha ainda ouço a voz dizendo: Bem-aventurados os que choram,
porque eles serão consolados; Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a
terra...
Aqui do
alto da montanha ainda ouço: Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão
misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus.
Aqui do
alto da montanha, pois, minha voz silencia pela voz do vento e a voz do vento
silencia pela voz que diz: Há de compreender a vida pelo que vês e não pela
palavra vã!
Aqui do
alto da montanha, sentindo que o sol vai se pôr e a noite estreita os caminhos,
ajoelho-me em oração, junto as mãos sobre o peito e apenas sorrio. E minha
prece é ouvida.
Aqui do
alto da montanha, assim que a noite chegar e eu já estiver pela estrada, sei
que no alto permanecerei pelo meu coração que não se afasta de onde o mais alto
estiver.
Aqui do
alto da montanha minha vida vive. Aqui do alto da montanha minha existência
existe. Aqui do alto da montanha sou o filho na moradia do pai.
Aqui do
alto da montanha vejo brotar minha fé, sinto florescer minha esperança, alcanço
o fruto da paz que preciso ter, na vida e para viver.
Por que
aqui do alto da montanha chega-me a montanha chamada Deus. E que sempre me faz
mais alto, mais alto, mais alto...
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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