Rangel Alves da Costa*
O silêncio não existe, pois tudo continua com
voz na memória, no pensamento, na saudade. O que existe é a mudez, é falta de
palavra, é a ausência de voz ecoando. Mesmo em tardes de solidão, onde a
distância de outros soa até como benção, o silêncio não se faz suficiente para
ser sentido. As folhagens farfalhando, a canção do sopro do vento, os grilos em
constante vigília, os sons das matas e das matas, a cantiga das ondas no cais,
tudo chega em grito. Mesmo a porta e a janelas fechadas, mesmo cortinas encobrindo
tudo, mesmo num mundo sem frestas, ainda assim os sons tomarão os silêncios. A
dor da saudade grita, o pensamento em alguém irrompe em trovões, a lembrança de
um beijo ou um abraço provoca um barulho danado. Tudo grita, tudo se agita,
tudo provoca ribombos e algazarras. Porque a solidão é uma multidão e o
silêncio uma voz. A solidão vai chamando presenças, enquanto o silêncio dá voz
e forma ao que se quer avistar. E por isso mesmo que as tardes, as noites e as
madrugadas, que deveriam ser sempre silenciosas, são os instantes onde mais as
vozes e os gritos tomam os espaços e tornam os sentimentos reféns de um rogo
qualquer.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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