Rangel Alves da Costa*
Não estava com saudade, mas de repente
chorava e chorava. Não estava amargurada, sofrida ou angustiada, mas de repente
chorava e chorava. Não ouvia uma velha canção de relembrança, não tinha nenhuma
carta à mão, não olhava nenhuma fotografia, mas de repente chorava e chorava.
Não havia dado ou recebido adeus, não tinha túmulo para chorar, não havia
presenciado ninguém seguindo adiante sem olhar para trás, mas de repente
chorava e chorava. Mas não o dia inteiro nem toda hora, mas somente em ocasiões
específicas. Suas lágrimas sempre chegavam ao entardecer, quando a chuva caía,
quando a brisa trazia um antigo e conhecido perfume, quando da janela observava
as folhas secas sendo levadas ao vento. E então, em momentos assim,
simplesmente se fazia um rio, um mar, uma correnteza. Chorava de soluçar, de
avermelhar a feição, de quase cegar com o véu molhado. E depois fechava a
janela e a porta do quarto e se mantenha reclusa em completa escuridão. Mas
ninguém sabia se chorava sozinha ou se apenas adormecia em busca de um sonho
bom. Ou ainda se de olhos abertos avistava a lua na escuridão. Apenas o
silêncio e a dúvida do desencanto da vida, sempre com os seus insondáveis
mistérios.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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