SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Palavra Solta: lágrimas e mais lágrimas


Rangel Alves da Costa*


Não estava com saudade, mas de repente chorava e chorava. Não estava amargurada, sofrida ou angustiada, mas de repente chorava e chorava. Não ouvia uma velha canção de relembrança, não tinha nenhuma carta à mão, não olhava nenhuma fotografia, mas de repente chorava e chorava. Não havia dado ou recebido adeus, não tinha túmulo para chorar, não havia presenciado ninguém seguindo adiante sem olhar para trás, mas de repente chorava e chorava. Mas não o dia inteiro nem toda hora, mas somente em ocasiões específicas. Suas lágrimas sempre chegavam ao entardecer, quando a chuva caía, quando a brisa trazia um antigo e conhecido perfume, quando da janela observava as folhas secas sendo levadas ao vento. E então, em momentos assim, simplesmente se fazia um rio, um mar, uma correnteza. Chorava de soluçar, de avermelhar a feição, de quase cegar com o véu molhado. E depois fechava a janela e a porta do quarto e se mantenha reclusa em completa escuridão. Mas ninguém sabia se chorava sozinha ou se apenas adormecia em busca de um sonho bom. Ou ainda se de olhos abertos avistava a lua na escuridão. Apenas o silêncio e a dúvida do desencanto da vida, sempre com os seus insondáveis mistérios.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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