Rangel Alves da
Costa*
Em
determinadas situações, não adianta entrar numa luta sem as armas compatíveis à
força do inimigo. Por mais que se considere a experiência, o destemor, a
bravura e demais forças de empenho, não adianta lutar sem rivalizar à altura da
belicosidade inimiga. Será derrota inevitável. A vontade, como mera propensão à
realização, não terá qualquer valia sem os meios ideiais para a sua
concretização.
Assim
ocorreu com a Cavalaria Mongol durante a Segunda Guerra Mundial, confrontando
as poderosas armas do exército alemão. Segundo os estudiosos, mesmo que as
cavalarias tenham sido tão importantes ao longo das batalhas e conquistas, e
que também tenham sido utilizadas em situações estratégicas para deslocamento
de pessoas e equipamentos, inadmissível que as tivesse utilizado como força de
patrulha ou de ataque, principalmente perante as armas pesadas sempre à
espreita para o revide.
Difícil mesmo
de acreditar que assim tivesse acontecido, vez que o histórico de guerra dos
mongóis é de uma ferocidade estratégica impressionante, principalmente ante os
ensinamentos advindos desde o comando de Genghis Khan, o temível e terrível
conquistador. De fato, os guerreiros mongóis se notabilizaram pelas táticas de
conquistas, pelos elementos-surpresa utilizados e pelos avanços devastadores de
sua impiedosa cavalaria. Eram verdadeiros mestres da conquista nos lombos dos animais.
Não se
tratava de um bando de guerreiros selvagens, montados em cavalos possantes e
carregando flechas e outras armas mortais. Não se tratava também de uma simples
horda sanguinária que de repente surgia passando a lâmina tudo que à frente
encontrasse. Logicamente que era tudo isso e muito mais, mas a partir de
estratégias que demoravam a ser concebidas. Daí seus ataques sempre certeiros e
devastadores, somando conquistas após conquistas.
Tais
aspectos logo demonstram o descompasso mongol no vergonhoso episódio na Segunda
Guerra. Um fato que macula uma história de inteligência e astúcia que serviram
na formação de um poderoso e quase imbatível império. Verdade que os tempos
eram outros e seus guerreiros (originários de Tashkent, na Ásia Central)
estavam a serviço do exército soviético, mas nada justifica que homens montados
em cavalos avancem sobre unidades de infantaria e artilharia alemãs. Mas assim
ocorreu.
Na manhã
de 17 de novembro de 1941, ao fazer o patrulhamento ao redor de aldeias russas
para observar sinais de soldados inimigos, ao perceber a presença de alemães
nas estepes os cavaleiros avançaram ferozes, de sabres à mão, numa vã tentativa
de enfrentamento. Mas eram apenas cavalos contra armas potentes. E o resultado
foi um banho de sangue rápido e sem qualquer ameaça. No combate entre homens
montados em cavalos contra metralhadoras e ombuseiros não há sequer que se
falar em confronto.
Segundo
relatos de um ex-combatente alemão presente naquele inesperado combate, o
avanço dos cavalos sobre as forças alemãs acabou formando um cenário
surpreendente. Sob a neve, acima dos campos gélidos tomados de branco, os
cavaleiros marchando velozes com seus sabres em punhos, como se ainda
estivessem comandados pelo seu Temujin, o grande Khan. E de repente aquela
mesma neve banhada de sangue e animais em fuga desesperada, porém sem os seus
cavaleiros. Tudo esperar, menos um episódio assim numa guerra brutal.
Até hoje
os estudiosos relatam tal episódio num misto de lenda e bravura. Só mesmo a
bravura daqueles descendentes de Genghis Khan, só mesmo o destemor e a
intrepidez daqueles guerreiros mongóis para fazer imaginar que lâminas afiadas
de sabres são mais potentes que o fogo voraz dos canhões, das metralhadoras,
das armas famintas por sangue. Morreram ingenuamente, porém talvez acreditando
que tantas conquistas daquela forma não lhes seriam tão diferente naquele dia.
Mas há uma
lição maior extraída desse episódio. E tal lição, a moda do grande general Sun
Tzu, reflete nas relações cotidianas, nos embates de cada dia, nos
enfrentamentos da vida. Assim na vida pessoal, política, administrativa,
gerencial e em todos os quadrantes da existência. A verdade é que não se pode
entrar num embate acreditando ser imbatível. Não se pode imaginar ter as
melhores armas quando sequer conhece as armas do outro.
Geralmente
acontece de acreditar demais nas próprias forças. Isso impulsiona à luta, mas
não é garantia nenhuma de vitória. Ou se vai à luta com armas capazes de
destruir os monstros escondidos no labirinto ou não alcançará o fim do caminho.
É uma questão de sobrevivência. Precisa-se ter a certeza que os inimigos
existem e que estão à espreita. E daí ter de carregar consigo as armas mais
eficazes que possam existir.
A fé
ajuda, a vontade ajuda, a coragem ajuda. Mas o inimigo tem a seu dispor um
imenso arsenal destrutivo. E agora? Ou entrar no campo de batalha para vencer
ou se refazer para o enfrentamento. Não adianta perder com o herói. Na vida,
heróis são sempre aqueles que vencem. Os outros são apenas reconhecidos pela
história. Ou simplesmente esquecidos.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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