SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



terça-feira, 12 de janeiro de 2016

CAVALARIA MONGOL (OU A LUTA PERDIDA)


Rangel Alves da Costa*


Em determinadas situações, não adianta entrar numa luta sem as armas compatíveis à força do inimigo. Por mais que se considere a experiência, o destemor, a bravura e demais forças de empenho, não adianta lutar sem rivalizar à altura da belicosidade inimiga. Será derrota inevitável. A vontade, como mera propensão à realização, não terá qualquer valia sem os meios ideiais para a sua concretização.
Assim ocorreu com a Cavalaria Mongol durante a Segunda Guerra Mundial, confrontando as poderosas armas do exército alemão. Segundo os estudiosos, mesmo que as cavalarias tenham sido tão importantes ao longo das batalhas e conquistas, e que também tenham sido utilizadas em situações estratégicas para deslocamento de pessoas e equipamentos, inadmissível que as tivesse utilizado como força de patrulha ou de ataque, principalmente perante as armas pesadas sempre à espreita para o revide.
Difícil mesmo de acreditar que assim tivesse acontecido, vez que o histórico de guerra dos mongóis é de uma ferocidade estratégica impressionante, principalmente ante os ensinamentos advindos desde o comando de Genghis Khan, o temível e terrível conquistador. De fato, os guerreiros mongóis se notabilizaram pelas táticas de conquistas, pelos elementos-surpresa utilizados e pelos avanços devastadores de sua impiedosa cavalaria. Eram verdadeiros mestres da conquista nos lombos dos animais.
Não se tratava de um bando de guerreiros selvagens, montados em cavalos possantes e carregando flechas e outras armas mortais. Não se tratava também de uma simples horda sanguinária que de repente surgia passando a lâmina tudo que à frente encontrasse. Logicamente que era tudo isso e muito mais, mas a partir de estratégias que demoravam a ser concebidas. Daí seus ataques sempre certeiros e devastadores, somando conquistas após conquistas.
Tais aspectos logo demonstram o descompasso mongol no vergonhoso episódio na Segunda Guerra. Um fato que macula uma história de inteligência e astúcia que serviram na formação de um poderoso e quase imbatível império. Verdade que os tempos eram outros e seus guerreiros (originários de Tashkent, na Ásia Central) estavam a serviço do exército soviético, mas nada justifica que homens montados em cavalos avancem sobre unidades de infantaria e artilharia alemãs. Mas assim ocorreu.
Na manhã de 17 de novembro de 1941, ao fazer o patrulhamento ao redor de aldeias russas para observar sinais de soldados inimigos, ao perceber a presença de alemães nas estepes os cavaleiros avançaram ferozes, de sabres à mão, numa vã tentativa de enfrentamento. Mas eram apenas cavalos contra armas potentes. E o resultado foi um banho de sangue rápido e sem qualquer ameaça. No combate entre homens montados em cavalos contra metralhadoras e ombuseiros não há sequer que se falar em confronto.
Segundo relatos de um ex-combatente alemão presente naquele inesperado combate, o avanço dos cavalos sobre as forças alemãs acabou formando um cenário surpreendente. Sob a neve, acima dos campos gélidos tomados de branco, os cavaleiros marchando velozes com seus sabres em punhos, como se ainda estivessem comandados pelo seu Temujin, o grande Khan. E de repente aquela mesma neve banhada de sangue e animais em fuga desesperada, porém sem os seus cavaleiros. Tudo esperar, menos um episódio assim numa guerra brutal.
Até hoje os estudiosos relatam tal episódio num misto de lenda e bravura. Só mesmo a bravura daqueles descendentes de Genghis Khan, só mesmo o destemor e a intrepidez daqueles guerreiros mongóis para fazer imaginar que lâminas afiadas de sabres são mais potentes que o fogo voraz dos canhões, das metralhadoras, das armas famintas por sangue. Morreram ingenuamente, porém talvez acreditando que tantas conquistas daquela forma não lhes seriam tão diferente naquele dia.
Mas há uma lição maior extraída desse episódio. E tal lição, a moda do grande general Sun Tzu, reflete nas relações cotidianas, nos embates de cada dia, nos enfrentamentos da vida. Assim na vida pessoal, política, administrativa, gerencial e em todos os quadrantes da existência. A verdade é que não se pode entrar num embate acreditando ser imbatível. Não se pode imaginar ter as melhores armas quando sequer conhece as armas do outro.
Geralmente acontece de acreditar demais nas próprias forças. Isso impulsiona à luta, mas não é garantia nenhuma de vitória. Ou se vai à luta com armas capazes de destruir os monstros escondidos no labirinto ou não alcançará o fim do caminho. É uma questão de sobrevivência. Precisa-se ter a certeza que os inimigos existem e que estão à espreita. E daí ter de carregar consigo as armas mais eficazes que possam existir.
A fé ajuda, a vontade ajuda, a coragem ajuda. Mas o inimigo tem a seu dispor um imenso arsenal destrutivo. E agora? Ou entrar no campo de batalha para vencer ou se refazer para o enfrentamento. Não adianta perder com o herói. Na vida, heróis são sempre aqueles que vencem. Os outros são apenas reconhecidos pela história. Ou simplesmente esquecidos.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Nenhum comentário: