Rangel Alves da Costa*
Menino que nasce no sertão pode completar
cinco ou seis anos sem saber o que é chuva. Em épocas de secas grandes, anos e
mais anos sem uma trovoada, sem uma molhação suficiente para levantar barrufo
da terra. Certa feita aconteceu de um menino sair correndo desesperado quando
sentiu sobre o seu corpo a queda de pingo groso. Estava brincando na malhada e
de repente a trovoada se formou, e foi tão rápido que nem deu tempo de a mão
gritar para que entrasse logo em casa. Assim que o pingo bateu no lombo ele deu
um salto assustado, pulou, gritou, ficou sem saber o que fazer, pensando até
que um bicho papão vinha lá de cima para amedrontar. Ao invés de correr pra
casa, o coitadinho ficou se molhando e chorando de se acabar. Por fim, começou
a gritar pela mãe dizendo que um bicho estava lhe pegando, lhe cuspindo todo
para depois engolir. Quando a mãe correu para ver o que era e se deparou com a
chuvarada toda, então se jogou debaixo da água e começou a pular de alegria.
Somente depois é que procurou o menino, mas nada encontrou. Ele já estava
debaixo da cama tremendo de se acabar.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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