Rangel Alves da Costa*
Minha avó materna era pedra e flor. Durona,
mandona, mas se esfarelava toda diante de um neto. Silenciosa, ou de poucas
palavras, não queria fechar a boca quando diante de neto. Ainda hoje recordo
sua feição trigueira, seu olhar sertanejo, sua voz me chamando pelo nome. Meu
avô paterno era incompreendido por muitos. Possuía o jeito rude dos coronéis e
a firmeza dos mandões, mas nada disso ele era perante os seus. Era de pouco
sorrir, mas seus olhos cegavam a brilhar diante de um neto. Carinhoso ao seu
modo, ele gostava de afagar passando a mão pela cabeça. E para ele já era tudo,
e era mesmo, pois era assim que demonstrava seu amor familiar. Já minha avó
materna, toda miudinha e de andar ligeiro, sabia fazer cafuné como ninguém, e
também de contar histórias do arco da velha. Ainda recordo com a cabeça ao seu
colo e adormecendo enquanto ela falava do cavalo do príncipe e da princesa
tristonha. Meu avô materno se foi quando eu era ainda pequenino, por isso são
poucas as recordações. Mas guardo comigo um seu retrato. E sei que ele ainda me
diz tudo aquilo que a vida não nos permitiu vivenciar lado a lado. Sobre meu
pai e minha, ah sobre meu pai e minha mãe, tanto pra dizer e por enquanto dizer
apenas saudade. E uma saudade imensa.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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