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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Palavra Solta: retalhos de família


Rangel Alves da Costa*


Minha avó materna era pedra e flor. Durona, mandona, mas se esfarelava toda diante de um neto. Silenciosa, ou de poucas palavras, não queria fechar a boca quando diante de neto. Ainda hoje recordo sua feição trigueira, seu olhar sertanejo, sua voz me chamando pelo nome. Meu avô paterno era incompreendido por muitos. Possuía o jeito rude dos coronéis e a firmeza dos mandões, mas nada disso ele era perante os seus. Era de pouco sorrir, mas seus olhos cegavam a brilhar diante de um neto. Carinhoso ao seu modo, ele gostava de afagar passando a mão pela cabeça. E para ele já era tudo, e era mesmo, pois era assim que demonstrava seu amor familiar. Já minha avó materna, toda miudinha e de andar ligeiro, sabia fazer cafuné como ninguém, e também de contar histórias do arco da velha. Ainda recordo com a cabeça ao seu colo e adormecendo enquanto ela falava do cavalo do príncipe e da princesa tristonha. Meu avô materno se foi quando eu era ainda pequenino, por isso são poucas as recordações. Mas guardo comigo um seu retrato. E sei que ele ainda me diz tudo aquilo que a vida não nos permitiu vivenciar lado a lado. Sobre meu pai e minha, ah sobre meu pai e minha mãe, tanto pra dizer e por enquanto dizer apenas saudade. E uma saudade imensa.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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