Rangel Alves da
Costa*
Vejo como
verdadeiro absurdo esse propalado boicote ao Oscar 2016. Tal recusa pelo fato
de que atores negros não foram indicados às premiações. Opino que deveriam
procurar o que fazer tanto Spike Lee como os demais que estão à frente do ato
de insurreição.
Contudo,
antes de expor outras motivações, urge fazer algumas considerações acerca do
tratamento diferenciado que hoje se propaga pela cor, orientação sexual e
outras categoriais sociais.
Por mais
que possa ser criticado, entendo que a busca pela igualdade, principalmente de
oportunidade, através de cotas e outros privilégios, acaba acentuando ainda
mais o sentimento de inferioridade, de preconceito e de discriminação.
A maioria
das constituições modernas possui no princípio da igualdade um dos preceitos
fundamentais. Significa dizer que há o reconhecimento jurídico da não
diferenciação, da proibição de tratamento desigual por sexo, cor, religião,
opção sexual, e muito mais.
Aquelas
classes sociais que a lei procurou inserir igualitariamente, já estavam, por
luta e esforço próprio, emancipadas e exemplificando o que de melhor possa
existir no ser humano: a luta em condições de igualdade pela sobrevivência e o
reconhecimento profissional pelo empenho.
Quando já
parecia assentada a ideia da igualdade constitucional, no amplo sentido, eis
que determinados grupos sociais, aqueles mesmos que no passado reclamavam de
preconceito e discriminação, se insurgiram contra os novos tempos e gritaram:
Não somos iguais, e por isso queremos mais direitos!
Que dizer,
foram determinadas categorias sociais que reacenderam contra si o preconceito e
a discriminação, através de igual preconceito e discriminação, vez que
começaram a se comportar como se excluídos fossem da sociedade, do estudo e do
mercado de trabalho. E também abominando outras classes sociais.
Depois que
o elemento cor da pele já não tinha importância alguma para a grande maioria do
povo, eis que alguns negros novamente se sentiram como escravizados, açoitados
pela sociedade, e com isto se sublevaram através de autodiscriminação e vitimização.
Se há exigência de um tributo histórico, sua cobrança não deve ser feita assim.
Mas pela demonstração de capacidades.
Patente é
a autodiscriminação. Esta porque muitos grupos em defesa dos negros surgiram
como se estes continuassem nas senzalas, nos troncos, no banzo dos tempos.
Forjaram realidades, inverteram o preconceito e procuraram se abrigar nos
cabides das políticas sociais e das novas leis surgidas para proporcionar
tratamento desigual em função da cor.
O pior é
que foi, no caso brasileiro, o próprio governo federal o gerenciador maior das
políticas preconceituosas do tratamento diferenciado e discriminado, como se no
país houvesse uma classe de “pessoas” e outra classe de “outras pessoas”.
Neste contexto
é que surgiram as chamadas políticas de cotas. Daí que as leis determinam
tratamento diferenciado no acesso ao ensino, nos concursos públicos e outros
setores da vida. Tais políticas, por mais bem intencionadas que sejam, não
deixam de desigualar os cidadãos e impingir-lhes um sentido de inferioridade.
Muitos
daqueles que se ajustam às cotas, simplesmente abominam essa ideia de serem
vistos como inferiorizados ou menos capacitados que os demais. E há de se
perguntar: Já foi comprovado cientificamente que a cor diferencia o sujeito no
ser, no saber, no fazer? Não tenho conhecimento de sua existência.
E vejam
esta notícia: Projeto em tramitação no Senado Federal, já aprovado pela
Comissão de Constituição e Justiça, estabelece cota de 15% das vagas dos
concursos públicos federais para homossexuais e transexuais. Bissexuais
continuam na luta pelo benefício mas ainda não foram contemplados no texto base
do projeto.
A tudo
isso se pode denominar subversão da ordem. E uma subversão de tal ordem que
mais adiante a sociedade estará partilhada em cotas. E cotas para os maridos
traídos, para os solitários da vida, para os ébrios e errantes, para o
ex-condenado: 15% de vagas para quem cumpriu pena por crime hediondo. A
sociedade não funciona assim.
Mas voltando
ao Oscar, a revolta de Spike Lee e outros não tem nenhum sentido. A Academia
premia pela competência na atuação, mesmo que muito lobby seja feito em torno
de alguns nomes. Mas nada justifica que a cada premiação atores negros tenham
que estar disputando a estatueta.
O boicote
deveria ser direcionado aos estúdios, aos produtores e aos diretores, mas não à
Academia. Deveriam exigir mais papéis para os negros e assim possibilitar mais
ascensão e possibilidades de premiação. Será que os indicados não mereceram tal
reconhecimento?
Com tal
atitude, infelizmente se corre o risco de a premiação do Oscar perder sua
importância. Acaso o sistema de cotas seja futuramente aplicado, todo mundo vai
dizer que tal ator negro só foi agraciado pela cor. E será um remédio surtindo
efeito contrário.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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