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sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Palavra Solta: magrelo e barrigudinho


Rangel Alves da Costa*


Magrelo e barrigudinho, assim é avistado o menino no casebre de barro, cipó e ripa. Com cinco ou seis anos, pois a compleição física sempre deixa uma idade indefinida, o menino não leva outra vida senão cavoucar as paredes de barro para encher a boca. E mastiga, e come, e engole. Desde criancinha acostumou-se com a falta de papa ou mingau, leite ou qualquer comida, e foi buscar no barro da parede o único alimento existente. Mesmo quando havia uma papa d’água ou mistura de leite ralo com fubá, ainda assim ele não deixava de lado seu costume, talvez como sobremesa. Foi crescendo e continuando com o mesmo costume, mas em menor apetite, vez que seus pais sempre gritando que não fizesse mais aquilo. Contudo, tarde demais no combate às doenças, às verminoses, às lombrigas. O barro em si já é um repositório terrível de enfermidades, e quando tornado lama ou molhado em urina, então tudo desanda mesma. E por isso mesmo que o magrelinho é avistado com uma barriga além da conta para o seu corpo. E talvez cresça assim, adoentado, amarelado, não só pelo barro saboreado como pela falta de alimentos suficientes na idade principal de crescimento.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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