Rangel Alves da Costa*
Armado de peixeira afiada, raivoso que só,
avançou em direção ao outro dizendo: “seu fi do cabrunco, vou estrebuchar
vosmicê agorinha mermo...”. O ameaçado, lançando mão de um tamborete de três
pernas, retrucou: “seu fi de água, venha que vou amassar seu chifre todinho,
seu corno manso, seu cabeça de vaca chifruda...”. O da peixeira, ao ouvir a
menção de corno contra si lançada, enraiveceu-se ainda mais e puxou a peixeira,
dizendo: “corno é vosmice seu fi de rapariga, seu viado safado, vou lhe cortar
todinho agora...”. Como resposta ouviu: “venha seu chifrudim de merda, seu
corno conformado, mai acho mió tu pegar essa faca e arrancá as ponta ou cortar
o cangote daquela puta gaieira de sua muié, mai se achar mió venha se for
homi...”. O outro avançou com a peixeira, deu um primeiro bote errado e teve
como resposta uma tamboretada nas fuças. “Vou matá, vou matá esse fi de égua,
vou matá...”. “Mata ninguém seu chifrudo, venha qui quem vai arrancá suas ponta
sou eu, venha...”. O vigário foi chegando em correria e logo gritando: “Parem
com isso agora mesmo. Quem já se viu uma coisa feia dessas só porque um corno e
o outro é lá não sei o que. Cada um que vá viver sua vida. Cada um que vá pra
sua casa. Só tenho pena desse aí. O coitado não pode nem passar pela porta de
casa. O chifre não deixa”.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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