SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

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sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Palavra Solta: madrugada, chuva e poesia


Rangel Alves da Costa*


Gente há que tanto faz que chova ou não, que caia sereno ou trovoada. A insensibilidade é tamanha que até se escusa de olhar para o alto, ou mesmo nela perceber grandes transformações na vida e na natureza. Mas outros esperam, sentem e vivem as chuvaradas com verdadeira devoção. Alguns poetizam cada pingo que cai, encontram nostalgias no tempo sombrio e chuvoso, rebuscam saudades com a enxurrada lá fora. Eu sou daqueles que se entristecem com as chuvas, sofrem com as chuvas, choram com as chuvas, encontram nas chuvas visões de passado e presente. Sou também daqueles de riscar nomes na vidraça embaçada e redesenhar na alma as flores mortas que jazem encharcadas pelos canteiros. Sou ainda daqueles que abrem a porta do quintal e se lançam debaixo da molhação. Mas nada igual a acordar na madrugada e ouvir os pingos incessantemente caindo, sentir na pele o resvalar dos pingos que avançam porta adentro, sentir a nostálgica poesia do instante. E ainda na escuridão, não temer sair adiante para sentir no corpo as águas jorrando. No silêncio do instante, apenas com a sinfonia da nuvem em flor, ser poeta desse mistério que envolve e aflige. Mas também sofrer, pois não há sentimento que não se aflija e atormente com as chuvas caindo na madrugada.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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