Rangel Alves da Costa*
Gente há que tanto faz que chova ou não, que
caia sereno ou trovoada. A insensibilidade é tamanha que até se escusa de olhar
para o alto, ou mesmo nela perceber grandes transformações na vida e na
natureza. Mas outros esperam, sentem e vivem as chuvaradas com verdadeira
devoção. Alguns poetizam cada pingo que cai, encontram nostalgias no tempo
sombrio e chuvoso, rebuscam saudades com a enxurrada lá fora. Eu sou daqueles
que se entristecem com as chuvas, sofrem com as chuvas, choram com as chuvas,
encontram nas chuvas visões de passado e presente. Sou também daqueles de riscar
nomes na vidraça embaçada e redesenhar na alma as flores mortas que jazem
encharcadas pelos canteiros. Sou ainda daqueles que abrem a porta do quintal e
se lançam debaixo da molhação. Mas nada igual a acordar na madrugada e ouvir os
pingos incessantemente caindo, sentir na pele o resvalar dos pingos que avançam
porta adentro, sentir a nostálgica poesia do instante. E ainda na escuridão,
não temer sair adiante para sentir no corpo as águas jorrando. No silêncio do
instante, apenas com a sinfonia da nuvem em flor, ser poeta desse mistério que
envolve e aflige. Mas também sofrer, pois não há sentimento que não se aflija e
atormente com as chuvas caindo na madrugada.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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