Rangel Alves da Costa*
Tempo de chuva não significa a chuva
propriamente dita. É o prenúncio, a antecedência, a formação de nuvens e aquele
aspecto de sombras que recai sobre as paisagens. Geralmente o tempo se fecha,
anoitece mais cedo, faz soprar forte ventania. As folhagens farfalham, os
arvoredos gemem, a poeira e o pó tomam conta dos ares. Levadas pelo vento, as
folhagens dançam enquanto seguem viagem. De vez em quanto, com as nuvens
prenhes também chegam os trovões, os raios e os relâmpagos. Nas casas
interioranas, onde a chuvarada sempre chega como dádiva divina, cuias e panelas
são colocadas debaixo das goteiras, as vidraças são cobertas com panos, a
família se junta pelos cantos em silêncio e temor. Assim porque mesmo sendo
lago tão esperado, chuva de tempestade ou trovoada sempre provocam estragos,
derrubando árvores, destelhando casas, matando bichos e devastando tudo o que
encontrar pela frente. Daí que os mais velhos lançam mão de terços e rosários
e, de mãos passeando pelas contas, vão pedindo aos santos que os pingos d’água
não provoquem mais sofrimentos. Mas nem sempre o tempo cheio, as nuvens
carregadas, os trovões relâmpagos, são garantias de chuvas. Apenas a ventania
que vai embora sem nada molhar. Mas noutras vezes o pingo grosso caindo, o
cheiro da terra se fazendo sentir, o bafo quente se espalhando pelos quadrantes.
E as enxurradas se formando, as fontes se enchendo e as esperanças sempre
renascendo.
Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com
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