SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Palavra Solta: tempo de chuva


Rangel Alves da Costa*


Tempo de chuva não significa a chuva propriamente dita. É o prenúncio, a antecedência, a formação de nuvens e aquele aspecto de sombras que recai sobre as paisagens. Geralmente o tempo se fecha, anoitece mais cedo, faz soprar forte ventania. As folhagens farfalham, os arvoredos gemem, a poeira e o pó tomam conta dos ares. Levadas pelo vento, as folhagens dançam enquanto seguem viagem. De vez em quanto, com as nuvens prenhes também chegam os trovões, os raios e os relâmpagos. Nas casas interioranas, onde a chuvarada sempre chega como dádiva divina, cuias e panelas são colocadas debaixo das goteiras, as vidraças são cobertas com panos, a família se junta pelos cantos em silêncio e temor. Assim porque mesmo sendo lago tão esperado, chuva de tempestade ou trovoada sempre provocam estragos, derrubando árvores, destelhando casas, matando bichos e devastando tudo o que encontrar pela frente. Daí que os mais velhos lançam mão de terços e rosários e, de mãos passeando pelas contas, vão pedindo aos santos que os pingos d’água não provoquem mais sofrimentos. Mas nem sempre o tempo cheio, as nuvens carregadas, os trovões relâmpagos, são garantias de chuvas. Apenas a ventania que vai embora sem nada molhar. Mas noutras vezes o pingo grosso caindo, o cheiro da terra se fazendo sentir, o bafo quente se espalhando pelos quadrantes. E as enxurradas se formando, as fontes se enchendo e as esperanças sempre renascendo.


Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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