*Rangel Alves da Costa
Chá das cinco e das saudades. Uma varanda
fresca, um jardim adiante, um silêncio de paz perfumado pelas flores da
estação. Um vento leve soprando pelas toalhas rendadas, uma doce poesia pelo
ar. Cadeiras ao redor de uma mesinha, um piano que parece tocar sozinho. A
velha senhora se aproxima e senta numa cadeira. Seus olhos passeiam pelos
arredores, encontram a rosa e o jasmim, o canteiro vasto, as folhas caídas e
ainda não recolhidas. Um quadro poético, uma moldura perfeita. Mas tudo de
tristeza e de solidão. Logo uma mocinha chega trazendo o chá e as xícaras,
também bolinhos e bolachas de goma. Coloca tudo na mesinha e depois se retira.
A velha senhora, parecendo ausente, apenas mira adiante. Seus olhos marejam
entristecidos. Nenhuma daquelas velhas amigas chegará para o chá das cinco. Ela
é a única sobreviva daquelas que ao entardecer ali se reuniam para as
relembranças e as nostalgias. O sol vai se pondo, as cores do dia avermelham. A
noite chega e a velha senhora ali sentada, impassível, inerte, apenas mirando
adiante, sem tocar numa xícara, sem se servir de nada. As amigas não vieram,
mas já estão partindo. A velha senhora quer ir junto delas. Mas não, diz uma. O
seu chá das cinco ainda não terminou, diz outra. Quem sabe um dia todas nós nos
reunimos para uma xícara de eternidade e um bolinho de céu, ainda diz outra. E
partem. E a velha senhora, falando sozinha, pede uma flor da noite. Mas só há
flor de lágrimas.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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