*Rangel Alves da Costa
Capitão Virgulino, Comandante Lampião, jamais
poderia esquecer-me de desejar-lhe um Feliz 2018. Então, Capitão Cangaceiro,
líder maior deste reinado entronado de sol, desta pujança chamada sertão
nordestino, que tenha um feliz e promissor 2018. Por quê? Ora, o Nordeste e
mundo precisam de sua presença cada vez mais forte, mais instigante, mais espantosa
a cada nova revelação que chega. Muita mentira - é verdade -, mas é pelas
inverdades que se busca o real conhecimento.
Capitão Virgulino, Rei do Reinado do Sol,
Raposa das Caatingas, como diria o poeta das letras, imprescindível é a
continuidade de sua presença entre nós. Saiba Virgulino, que sua presença,
através do estudo, da pesquisa, do questionamento, do passo dado em busca de
sua história, é o que move o mundo e o fazer de muita gente. O que seria dos
estudiosos, dos pesquisadores, dos escritores, dos conferencistas, dos
cordelistas, dos cangaceiristas, dos caririenses e de um mundão de apaixonados,
sem a sua contínua presença.
Mas saiba que não somente a sua. A sua é a
primeira, é a maior, é a primordial, é a que motiva tudo. Porém tem gente muito
importante também nesse livro do tempo. Você sabe muito bem, meu Capitão, que
Corisco era um cabra arretado. Dadá era a sua luz, mas ele era arretado sim.
Volta Seca, Juriti, Luiz Pedro, Cajazeira, Sila, Enedina, Canário, Durvinha,
Moreno, Adília, Meia-Noite, Sabonete, Zé Sereno, Zabelê, dentre tantos outros,
andaram à sua sombra, mas cada um também com sua luz. E Maria, a sua Maria tão
Bonita?
O seu bando, meu Capitão, ainda que outros
bandos anteriormente tivessem existido, ainda hoje vive, está vivinho da silva.
O massacre de Angico nunca existiu, Capitão. E você não tombou nele. Nem você
nem ninguém. O cangaço não morreu ali de jeito nenhum. Corisco também não
morreu, cabeças não foram degoladas, ninguém foi alvejado pelas cuspideiras das
volantes. Como tudo morreu se tudo está tão vivo? Todos os dias há gente
dialogando com e sobre o cangaço, todos os dias há gente reencontrado você e os
demais, meu Capitão.
E mesmo que tivesse morrido, certamente um
milagre aconteceu. E o que esse povo todo do Cariri Cangaço tanto faz senão ir
ao seu encontro, e três ou quatro vezes ao ano, por diversas localidades
nordestinas? O que esse povo todo vai fazer na Gruta do Angico, na Maranduba,
em Poço do Negro, na Fazenda Favela, na Fazenda Patos e tantos outros lugares,
senão ir ao encontro de sua presença e de seus liderados? Ora, se tivessem
morrido estariam enterrados nas areias do esquecimento. Outro dia, meu Capitão,
ouvi até alguém dizer: “Só Lampião pra dar um jeito nisso tudo!”. Quer dizer,
requer a sua presença, como presente está.
Lampião, o que seria desse mundo de gente
ávida pela sua história se sua presença não continuasse cada vez mais forte? O
que seria desse monte de gente catando, recolhendo cada restinho e cada pedaço
de seus passos, acaso não continuasse ocultamente vivo neste grandioso reinado
espalhado pelos quadrantes nordestinos? Quais fatos novos surgiriam, quais
teorias mirabolantes encontrariam espaço, quantas verdades escondidas deixariam
de ser reveladas e quantas mentiras silenciariam pela sua definitiva ausência?
Por isso mesmo que tenha um ano novo cada vez mais vivo.
Uma das coisas mais interessantes que já ouvi
foi o proseado entre dois sertanejos de minha Poço Redondo, na aridez
sergipana. Um levantou-se raivoso e disse que Lampião não havia morrido de
jeito nenhum. Nem morreu nem iria morrer nunca. Já o outro, em tempo de pegar
uma peixeira para a desfeita, retrucou dizendo que do cangaceiro não restava
mais nem o pó. Zangado virado na gota serena, perguntou se ele podia provar que
Lampião estava vivo e onde vivia. A resposta foi imediata: Ontem mesmo você
disse que só Lampião para dar jeito nessa safadeza toda que tá havendo agora. A
todo o momento você repete que o homem de agora precisa ter a valentia de
Lampião. E vai ter a valentia de um homem morto?
Eu também sei que Lampião não morreu e nem
nunca morrerá. E qualquer dia desses ouvirei de sua própria voz algumas
respostas para coisas, fatos e situações, que desde muito desatinam o meu
pensamento. Uma das perguntas que farei é por que sua liderança sobre o bando
não impediu que malvados como Zé Baiano extravasassem seu ódio bestial em
pessoas inocentes, marcando com ferro em brasa os rostos daquelas mocinhas de
Canindé. Outra pergunta: É verdade que de vez em quando sua Maria Bonita enxugava
seus olhos encharcados de lágrimas?
Sei os motivos de suas lágrimas, meu Capitão.
Eu sempre soube. Digo apenas que é difícil demais nunca ter paz. É difícil
saber que nunca vai ter uma rede armada numa varanda e de sua Maria receber
cafuné.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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