*Rangel Alves da Costa
Mestre
Tonho é inquestionavelmente o maior artesão de Poço Redondo e do Nordeste,
senão do Brasil. Não apenas por palavras minhas, mas pelo vasto reconhecimento
obtido onde suas obras chegam.
Mestre da madeira,
do talhe, da forma perfeita. Suas peças alcançam tamanha perfeição que se torna
impossível não se espantar com tamanha engenhosidade nascida de mãos humildes,
brutas do trabalho na terra, calejadas de luta.
Sua arte
já foi além-fronteiras. As peças maiores geralmente são disputadas por grandes colecionadores.
Não faz muito tempo, sob encomenda, deu vida a um Antônio Conselheiro (com
cerca de dois metros de altura) que ainda hoje provoca admiração até nos
retratos na parede que restaram daquele exemplar de grandiosidade artística.
Nosso
mestre da madeira sempre esteve presente e sempre foi amigo do Memorial Alcino
Alves Costa. Também um amigo pessoal meu. Já o conheço desde muito, ainda
quando estava apenas iniciando na sua arte que se fez tão famosa. Sempre se
mostrou simples, humilde, sem jamais afastar seu jeito sertanejo de ser.
Depois se
tornou amigo também do Memorial. No passado, de vez em quando ele aparecia para
um proseado, para discutir projetos ou mesmo levar suas peças, quando em
ocasiões festivas.
Contudo, o
homem sumiu de vez após o surgimento da Sala Arte da Terra do Memorial. A
verdade é que até o momento, mesmo já tanto rogado e implorado, ainda não levou
uma obra sequer para exposição naquele espaço que é de suma importância para a
cultura e a arte de Poço Redondo.
Lá estão
as artes de Dona Domingas e filhas, dos irmãos Raí e Raildo, de Bia, de
Gessycka, de Sônia Godoy, de Tânia Maria. Lá estão também as pinturas e
desenhos de Rangel, bem como a literatura de Alcino, Ana de Juvenal, Belarmino
e Rangel. A Sala está aguardando os demais escritores, bem como os nossos
artistas do bordado, do couro, da madeira, do pano, da renda.
Bom que se
esclareça que nenhuma das peças ali deixadas se torna de propriedade do
Memorial. Todas continuam de propriedade do próprio artista, tanto assim que
cada um pode trocar ou mesmo recolher sua obra quando quiser. Todas ficam em
exposição e cada uma delas contendo o nome e o contato do artista. Os
visitantes que desejarem adquirir é só entrar em contato.
Talvez
imaginem que procuro os artesãos e peço que levem suas obras, objetivando
torná-las parte do acervo do Memorial. Não é este o nosso objetivo, ainda que
aceitemos e precisemos de doações. Quem quiser doar suas peças, estas serão
aceitas e se tornarão parte permanente do acervo.
Assim
acontece com outros objetos e relíquias já doadas. Todas são cuidadas,
reparadas no que for necessário, e depois colocadas em lugares específicos. Os
visitantes são informados a quem pertencia e os motivos de estar ali. Na
verdade, todos os objetos guardam em si imagens da própria história.
Quando me
refiro de modo específico ao Mestre Tonho é no sentido de reafirmá-lo como
nosso representante maior e, por isso mesmo, tão necessário na Sala Arte da
Terra. Como dito, já pedi muito e até implorei, a ele e a tanta gente, e se não
levam é porque não desejam. O que posso fazer?
O Memoria
e a Sala Arte da Terra continuam de portas abertas a todos. Creio não haver
motivação alguma para que o artista local não queira expor seu trabalho em
espaço tão privilegiado, conhecido e visitado. Contudo, na ausência, quem perde
é a cultura de Poço Redondo, que deixa ter maior visibilidade e valorização. O
artista certamente acha que não perde nada. Mas quem sou eu para afirmar o
contrário.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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