*Rangel Alves da Costa
Não sei se choro ou lamento o sertão que eu
queria e não posso ter. Esteiras estendidas pelas calçadas para o noturno
adormecer. Café batido em pilão e tão doce aroma no seu ferver. Cuscuz ralado
em quintal e manteiga da terra pra fome espairecer. Não sei se entristeço ou
pranteio pelo sertão de antigamente e agora tão diferente, tudo mudou de
repente causando aflição na gente. Porta e janela aberta e caqueiro no batente.
Rede na varanda balançando e o sertanejo contente. A paz do quintal atrás era
paz da porta da frente. Não sei se silencio ou emudeço o sertão que foi um dia
e de tudo hoje só restam saudade e nostalgia. Araçá madurinho, a fruta que eu
mais queria. Menino solto no mundo, um viver de arrelia. A chuvarada caindo e a
meninada na alegria. Não sei se enraiveço ou embruteço pelo sertão do passado e
agora ter de suportar o viver amargurado. Vaqueiro correndo boi, vaqueiro
correndo gado. Carro-de-boi gemedor e o arado no roçado. E hoje o que se ouve é
o motor mais endiabrado, na moto e no veículo, deixando o sertão fumaçado. Não
sei se agonizo ou aflijo pelo sertão que vivi, perante este sertão que
cabisbaixo sofri. Sem amigas na calçada, sem compadres na proseada, sem o
brincar da meninada. Ninguém conhece ninguém, tudo de cara amarrada, sem bom dia
ou boa noite, cada um na sua estrada. E assim vai o sertão me afligindo o
coração, pois lembrar os tempos passados é dor na recordação, e viver este
presente é padecer de aflição.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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