*Rangel Alves da Costa
Chove lá fora, como diz Lobão. Aqui não faz
tanto frio senão a gelidez do silêncio e da solidão. Já é noite fechada, com
ruas desertas e luzes amareladas descendo nos postes. A chuva faz com que todos
se mantenham recolhidos e com portas e janelas fechadas. De vez em quando eu
vou até o portão e ali permaneço por uns cinco minutos, olhando ao longe,
avistando ao redor, deixando o olhar se perder perante o asfalto molhado. Estou
sozinho, absoluta e completamente sozinho. Não tenho com quem falar nem ouvir
sua voz. Os retratos emudeceram e as lembranças se recolheram por medo de minha
fúria solitária. Não quero sofrer com lembranças e recordações. Os retratos
sempre me chegam como entes dolorosos que jamais posso alcançar. E não quero
sofrer assim. Mas não há jeito. Sempre atormenta estar numa noite assim, de
silêncio, de chuva caindo e de solidão. Não quero taça de vinho nem dose de
qualquer bebida. Não quero veneno nem fel como tempero de nada. Bebo da lágrima
que não cai e me farto do rio que escorre n’alma. Quem sou eu numa noite assim?
Um pingo de chuva, todo pingo de chuva que cai e escorrendo vai pelos gemidos
agonizantes da noite.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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