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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

FANATISMOS E FANATISMOS



*Rangel Alves da Costa


O termo fanatismo leva a muitas significações. Segundo os livros e dicionários, há no fanatismo uma fervorosa obsessão, irracional e persistente, em defesa daquilo que o fanático defende ou tem como verdade. Ressoa ainda como adesão cega a uma doutrina, uma tese ou sistema, de forma tão apaixonada que não admite contradição ou contestação. Abraça-se a causa como se a mesma fosse maior que sua própria vida. O fanático, a partir de uma idealização, faz da incoerência a certeza que somente ele acredita.
Há fanatismo, por exemplo, no futebol, na literatura, na religião, mas nada igual ao extremismo político. No futebol, as discussões se tornam acirradas e chega-se até às vias de fato, com graves consequências das paixões acirradamente expostas. Na política, principalmente em período eleitoral, os fanatismos se tornam tão desmedidos que chegam a provocar extremadas violências e até mortes. Contudo, em qualquer situação que seja, a fanatização política se torna ainda mais intolerável à medida que não há limites para as agressividades em nome das bandeiras defendidas.
O verdadeiro fanatismo, contudo, é muito diferente e vai muito além da simples defesa de partidos, de candidatos, de grupos ou de lideranças. Em situações tais, tem-se como normalidade que o fanático passe a defender com unhas e dentes a sua bandeira, ou por que está sendo pago para tal ou por ser partidário apaixonado. Zomba dos adversários, floreia o seu candidato, macula a imagem dos opositores, mente, cria situações objetivando alavancar o nome do político ou pleiteante.
Há, entretanto, muitas outras formas de se fanatizar e ser fanatizado politicamente. Há o fanático que de repente mudou de lado e passou a beber e a comer na mão do político. Há o fanático pago para levantar bandeira e defender com unhas e dentes seu patrão com mandato ou não. E há principalmente o fanático doentio, cego, domado, alienado, que esbraveja uma bandeira partidária como se nela estivesse seu destino e sina.
Das três acepções acima, urge citar alguns exemplos de como se expressam no cotidiano social e político. O fanático que de repente muda de lado, deixando um partido ou um político para defender seu oposto, é aquele da conveniência financeira, pois de paixão paga ao modo daquelas meretrizes de becos e beiras de cais. Acontece muito com alguns assessores de imprensa, jornalistas, radialistas e outros mais, cujas defesas e fanatismos não passam de vinténs trocados pelo endeusamento.
O fanático pago para defender com unhas e dentes determinado político, ainda que se assemelhe ao fanático por mera conveniência, possui alguma diferenciação na sua forma de atuação. Enquanto o oportunista apenas vende seu peixe, expressando seu fanatismo segundo o valor recebido, o fanático defensor age como se ele próprio fosse o político, não aceitando de forma alguma que sua bandeira seja aviltada ou achincalhada. Sua máxima expressão está no puxa-saquismo, na bajulação, na decrepitude humana pela submissão.
O interesse pessoal, financeiro, social e familiar, é o que geralmente move a atitude dos dois tipos de fanáticos acima citados. Interesse pessoal por que tem na política e no político um meio de ascensão e reconhecimento, ainda que lhe falte sempre o respeito e a dignidade. O interesse financeiro se concretiza na comercialização de sua honra, pois de fanatismo vendido a qualquer um que pague mais.
O terceiro tipo acima citado, ou seja, o fanático doentio e de desenfreada paixão, exsurge como verdadeiro transtorno mental ou de personalidade. Não se pode ter como de normalidade psíquica aquele que nega a verdade, que contradiz a certeza, que age sempre na contramão da evidência. Não se pode ter como de normal personalidade aquele que de repente se transforma totalmente em defesa de partido ou de político. Nesta transmudação, passa a desconhecer o conhecido, passa a desonrar e a macular qualquer um, e tudo objetivando apenas defender sua causa ou seu salário. Ou mesmo qualquer vintém que lhe pague para agir assim.
Há de se dizer, contudo, que o fanatismo doentio se torna ainda mais perigoso quando o fanático já vem de raiz partidária. Quando a defesa e o ataque são feitos em nomes de partidos ou de políticos, sejam candidatos ou não, então se chega às raias da bestialidade, da selvageria, da cegueira mais alarmante e da virulência mais exacerbada. Parecem feras querendo engolir todo aquele que não defenda a sua bandeira, parecem bichos atacando adversários. E não há limites para a ação. Quando as palavras já não são mais acreditadas, então todo tipo de arma começa a ser usada.
Há, como já dito, um desequilíbrio mental no fanatismo político. Não se pode concluir diferente. Não pode ser normal aquele que foge da verdade e faz da fuga uma ilusão doentia. Prova maior disso está no fato de santificar pessoas, de tornar humanos em deuses, de purificar todos os erros. Todo mundo erra, todo mundo tem defeitos. Mas para o fanático não. Aquele por ele defendido é sempre tão celestial quanto imaculado.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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