*Rangel Alves da Costa
Num poema de Casimiro de Abreu (Meus oito
anos), a doce recordação: “Oh! que saudades que tenho da aurora da minha vida,
da minha infância querida que os anos não trazem mais!..”. E digo: Oh que
saudades que tenho daquele luar sertanejo, onde a criançada em festejo dizia
que a noite era sua e se espalhava pela rua na ciranda a cirandar e no cavalo
de pau a reinar... Poço Redondo, meu Poço Redondo, tuas noites tão fagueiras,
como num luzir de fogueiras para um povo iluminar. Calçadas de proseados, os
ventos da noite soprados como beijo em cada face. Uma vida sem disfarce, em
cada amizade um enlace, e na humildade da vida a paz por Deus concebida. Noites
de lua bela, as mocinhas na janela fazendo do sonho aquarela. Crianças por todo
lugar, pois a noite é um “meninar” que ninguém pode domar. Meninas se dando a
mão e na voz a bela canção: “Se essa rua se essa rua fosse minha, eu mandava,
eu mandava ladrilhar, com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante, para o meu,
para o meu amor passar...”. “Como pode um peixe vivo viver fora de água fria,
como poderei viver, como poderei viver, sem a sua, sem a sua companhia...”. E
os meninos, dando na noite pernoite, faziam da lua um açoite e começavam a se
danar. Bola de gude jogar, cavalo de pau pra voar, pega-de-boi pra caçar, bola
de meia a encantar. E hoje, o que se faz nas noites de Poço Redondo? Que mundo
transmudado em coisa. Onde estão os meninos, onde estão as meninas? Venham,
venham brincar na rua, venha cirandar debaixo da lua. Onde está a infância, meu
Deus? “Oh! que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância
querida que os anos não trazem mais!..”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário