SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Palavra Solta – saudade da lua cheia



*Rangel Alves da Costa


Num poema de Casimiro de Abreu (Meus oito anos), a doce recordação: “Oh! que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais!..”. E digo: Oh que saudades que tenho daquele luar sertanejo, onde a criançada em festejo dizia que a noite era sua e se espalhava pela rua na ciranda a cirandar e no cavalo de pau a reinar... Poço Redondo, meu Poço Redondo, tuas noites tão fagueiras, como num luzir de fogueiras para um povo iluminar. Calçadas de proseados, os ventos da noite soprados como beijo em cada face. Uma vida sem disfarce, em cada amizade um enlace, e na humildade da vida a paz por Deus concebida. Noites de lua bela, as mocinhas na janela fazendo do sonho aquarela. Crianças por todo lugar, pois a noite é um “meninar” que ninguém pode domar. Meninas se dando a mão e na voz a bela canção: “Se essa rua se essa rua fosse minha, eu mandava, eu mandava ladrilhar, com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante, para o meu, para o meu amor passar...”. “Como pode um peixe vivo viver fora de água fria, como poderei viver, como poderei viver, sem a sua, sem a sua companhia...”. E os meninos, dando na noite pernoite, faziam da lua um açoite e começavam a se danar. Bola de gude jogar, cavalo de pau pra voar, pega-de-boi pra caçar, bola de meia a encantar. E hoje, o que se faz nas noites de Poço Redondo? Que mundo transmudado em coisa. Onde estão os meninos, onde estão as meninas? Venham, venham brincar na rua, venha cirandar debaixo da lua. Onde está a infância, meu Deus? “Oh! que saudades que tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais!..”.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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