*Rangel Alves da
Costa
Neste
mundo tão real, vívido e pulsante, sua contradição: tudo é ilusão. Nada há,
absolutamente nada, que não seja ilusão.
Em tudo a
ilusão e em tudo e por todo lugar o ser iludido consigo mesmo, com a sua vida,
com a realidade, com o seu mundo.
A ilusão
do nascer para a alegria, para o contentamento, para a felicidade. É tudo como
se os desejos dos pais e familiares não fossem atravessados pelo futuro.
A ilusão
da infância, do brincar, do traquinar, do sequer pensar que mais adiante existe
uma realidade diferente. Então o arco-íris muda de cor e a bola some pelo ar.
A ilusão
da mocidade, dos sonhos amorosos, dos desejos tantos, das promessas e
compromissos. E depois saber que tudo não passou mesmo de ilusão.
A ilusão
do adulto perante o seu mundo e sua realidade. Ainda sonha, ainda busca a
felicidade, mas quanto mais caminha mais percebe que a estrada é longa demais.
A ilusão
da velhice e sua costumeira expectativa de ainda conseguir fazer o que não
conseguiu no passado. E deixando assim de viver o tempo próprio de sua idade.
A ilusão
de um mundo que faz do amanhã uma esperança de dias melhores, quando, desde o
seu início, não buscou fazer o melhor a cada passo e a cada segundo de sua
estrada.
A ilusão
de um povo que vota acreditando que exista político honesto, que algum dia um
surgirá que diga não à mala endinheirada, que não se enlameie entre a imundície
de porcos.
A ilusão de
um povo que sai às ruas - e quando sai - achando que sua voz, seu grito ou seu
berro, surtirá algum efeito perante os encastelados na cegueira do poder.
A ilusão
de um povo que só reclama, reclama e mais reclama, mas depois se ajoelha
perante a urna para santificar o candidato corrupto, o ladrão e o salafrário.
A ilusão
de um mundo de paz. Quanta ilusão na ilusão de um mundo de paz. Quando haverá
paz num mundo que se compraz com a guerra, com o genocídio, com o terrorismo?
A ilusão
da pomba da paz. Quanta ilusão na pomba da paz. O mesmo homem que elegeu o
pombo como símbolo da paz é aquele que o tange das praças e ruas sob a alegação
de que é imundo e causa doenças.
A ilusão
do “eu te amo”. Muito fácil dizer e daí toda a ilusão. E mais ilusão ainda em
acreditar na palavra dita sobre o amor, quando o a palavra silenciosa do
coração sequer é ouvida.
A ilusão
da amizade. Quantos amigos a pessoa tem, há de se perguntar. Amigos apenas
alguns, poucos. No restante a falsidade, a traição, a aleivosia, o desejo de ter
o outro exatamente no oposto daquilo que falseia pela palavra.
A ilusão
do namoro, do noivado, do casamento. Haverá formalismo, anel ou igreja, que
sustente a vida a dois? Ama mais ou ama menos aqueles que apenas escolhem o
convívio respeitoso e compromissado na fé e no coração?
A ilusão
do pecado. O pecado não passa de uma ilusão. Como as pessoas não são iguais, os
sentimentos também não o são. O que é transgressão a alguns, a outros se
afeiçoa de forma diferente. E não é a religião que possa dizer o que está certo
ou está errado.
A ilusão
da certeza. Quanta incerteza na certeza. O que está certo está também errado.
Dependendo do ponto de vista ou da concepção de cada um, jamais haverá consenso
sobre qualquer situação ou fato da vida.
A ilusão
da ilusão. Ora, se tudo é ilusão, também a ilusão é ilusão. Quando a névoa se
dissipa, a bruma perde sua força ou a poeira amaina, o que se imaginou de uma
forma poderá ter outra. Como um oásis inexistente no deserto, apenas
imagina-se.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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