*Rangel Alves da Costa
A mais maravilhosa e a mais inusitada das
missas. O mais intenso, comovente e profundo dos sermões: O Sermão na Barca. E
o pregador, como se pairasse sobre as águas em asas de anjo, o Padre Mário.
Mas por que o Sermão da Barca quando o Padre
Mário pregou sobre um menino humilde nascido em manjedoura e que veio ao mundo
e, persistente e esperançosamente, se lançou no esforço contínuo da salvação
humana?
Nas palavras do Padre Mário a explicação:
Aqui nesta igreja aberta, sem teto, sob o luar sertanejo, igual barca acolhendo
os seus em travessia, a missa para celebrar o nascimento daquele que não
desistiu do homem!
Sim, Ele não desistiu do homem! Quase bradou
o Padre Mário na sua palavra inicial. E daí em diante mostrou a esperança como
a força maior da vida humana, pois somente através dela o homem segue, sonha,
persiste, luta, encontra valia e valor na vida.
Sentado na sua cadeira de rodas ao lado do
singelo presépio, Padre Mário apontava a humilde e rústica manjedoura para
dizer que aquele que veio assim ao mundo, enfaixado em capim e pobreza, venceu
todas as dificuldades impostas em nome daquele que veio para salvar: o homem.
“Um menino que nasceu de braços abertos na
sua rústica manjedoura. Aquele que pregou de braços abertos por onde andou, nos
montes e nos templos. Aquele que morreu de braços abertos numa cruz. E também
aquele que ressuscitou de braços abertos!”. Eis a força expressiva nas palavras
do Padre Mário.
“Vejam. Sintam que coisa maravilhosa. Aquele
que de braços abertos persistiu em nome do homem. E o fez pela esperança de que
seu exemplo de luta, persistência e destemor, jamais fosse esquecido pelo
homem”. Assim, este homem acreditado, amado, confiado, deve buscar no seu
exemplo a mesma esperança que lhe foi creditada.
“Deus que é o Deus do improvável para se
fazer presença. Assustou Herodes, assustou Maria, assustou os pastores,
assustou a todos por ser tão forte e tão humilde. Nascido envolto em faixas,
pobre e como os pobres depositado na palha de feno, certamente ainda assusta a
todos. E assim por que ainda somos arrogantes, orgulhosos, vaidosos, e Ele com
sua humildade assustadora”.
“Esse Deus improvável que agora surge nesta
barca, nesta igreja aberta, ali na sua manjedoura, na sua simplicidade”.
Deveras, uma presença numa situação jamais imaginada pelos fiéis de poço
Redondo. Uma missa natalina numa igreja sem telhado, aberta, escancarada, fato
que a muitos também assusta.
Mas assim a ação divina, eis que no templo
desnudo de telhado também a visão do menino pobre nascido em meio a barca do
tempo, entre palhas e capins, ao redor de animais, na proximidade de pastores e
de gente humilde. O mesmo menino nascido assim, de modo tão improvável, e que
reinou sobre a terra.
Logicamente que não foram exatamente essas as
palavras utilizadas pelo Padre Mário, pois apenas sintetizadas. Logicamente que
barca, significando um templo aberto, foi no sentido de expressar a Igreja
Matriz sem telhado como está agora, nua das paredes acima, mostrando no teto o
clarão do dia e o negrume enluarado da noite.
Não imaginei que Padre Mário fosse celebrar
missa natalina na situação e na feição que a igreja se encontra agora. Contudo,
não havia pensado que o nosso pastor também gosta de agir perante o improvável,
o inusitado, o inimaginável. E tenho certeza que sua satisfação foi maior que
se estivesse entre luzes e castiçais da mais suntuosa catedral.
Padre Mário é também do mesmo capim da
manjedoura. É do mesmo feno que enfaixou o menino. É da mesma pobreza e
humildade ali presentes quando daquele nascimento. Mas é principalmente a
esperança. A grande esperança que hoje prega aos sertanejos.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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