SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Palavra Solta - chinelada na bunda


*Rangel Alves da Costa


A infância não pode ser relembrada se nela não houver as recordações das tantas e tantas chineladas na bunda. Criança traquina, desobediente, afoita demais, só pode ser refreada com chinelada na bunda. Assim aconteceu também comigo. Na infância interiorana, solto num mundo de mato, descampado e brincadeiras no meio do tempo, de vez em quando eu enveredava pelas traquinagens mais reprimidas pelos meus pais, principalmente minha mãe. Saía de casa com ordem expressa de não se afastar muito de perto de casa, de não seguir em direção ao riachinho, de não tomar banho nu debaixo da chuva, de não caçar passarinho com arapuca no meio do mato. E muito mais. Contudo, bastava eu sair pela porta da frente, virar a esquina, e era como se jamais tivesse ouvido qualquer ordem ou conselho. E fazia tudo aquilo que estava proibido fazer: banho no riachinho, correr pelas distâncias e mais além, caçar passarinho, jogar bola nas vidraças pelos arredores. E de repente eu ouvia um grito: Venha cá, seu teimoso. Agora mesmo pra casa, anda! Então eu já sabia o que ia acontecer, por isso mesmo que a bunda já começava a arder. E tome chinelada, mais chinelada, castigo e mais castigo. Um chororô danado. E para repetir tudo novamente no dia seguinte. Fatos inesquecíveis de uma infância na completude da felicidade. Hoje, já partidos nas distâncias dos céus, sequer posso mais ouvir as vozes de meus pais. E como dói relembrar. E como dói a saudade!


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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