*Rangel Alves da Costa
O carteiro
surpreendeu-se ao ter de entregar uma carta cheirando a perfume. E mais: com
dois coraçõezinhos desenhados ao lado do nome da destinatária. Depois de tanto
tempo sem se deparar com situações assim, comoveu-se por novamente fazer chegar
às mãos de alguém uma carta de amor. E era de amor mesmo. E de um profundo e
singelo amor. Lá dentro, com letras trêmulas e linhas em sobe e desce, a terna
mensagem natalina de uma amor distante para um amor na distância. “Meu amor,
como vai? Desculpe primeiramente dizer que tô morrendo de saudade. Também não
se importe com as palavras erradas nem com minha pressa em escrever, é que já
tô sem suportar viver assim tão longe de você. Dia e noite no sofrimento pela
distância. O coração aperta e tanto me dói que dá vontade de avoar. Deus queira
que chova logo por aí e que a terra molhada garanta trabalho e sustento.
Enquanto isso vou juntando moeda a moeda para logo voltar. Já comprei um
relógio bonito e um diadema pra você. Vou levar anel dourado e perfume de nome
difícil de dizer. Mas queria mesmo era tá aí juntinho de você, olhando as
estrelas do céu como pisca-pisca de natal. Nesse tempo eu fico ainda mais
triste, com muito mais saudade. No último natal a gente comeu galinha de
capoeira e pão de padaria, vinho de jurubeba e cocada de frade. E agora mal
consigo avistar os prédios enfeitados daqui. Todo vez que olho marejo e choro.
E toda vez que choro me escondo debaixo do travesseiro. Tudo pela saudade de
você. Já molhei até a folha e não consigo mais escrever. Feliz natal e que o
ano novo não separe a gente. De seu amado João”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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