*Rangel Alves da Costa
Ontem, 17 de dezembro, num sábado sertanejo
de sol brilhoso, o pároco da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, demais igrejas
e povoações, no município de Poço Redondo, sertão sergipano, o Padre Mário
César, completou 50 anos de existência.
Alheio a qualquer tipo de comemoração festiva
dos paroquianos – amigos, beatas, devotos -, o jovem pastor só aceita receber
visitas cordiais de felicitações e sem quaisquer surpresas de bolos, salgadinhos,
docinhos e cantorias. Não se sabe bem os motivos de não aceitar velas e palmas
ou jubilosos alaridos. Mantém-se em reflexão e assim é encontrado pelos
visitantes.
Cheguei já passado do meio-dia à residencial
paroquial. Porta da frente fechada, avistei aberta a do lado, já ao fundo, e
para lá me dirigi. Padre Mário já estava sentado ao redor da mesa para um
almoço simples preparado por alguns amigos. Abracei, fui abraçado, recebi um
imenso e sincero sorriso, tão afetuoso e penetrante que nos faz ungidos de
corpo e alma.
Levei dois presentinhos. Aliás, ao adentrar
na cozinha logo falei que o amigo secreto estava chegando. E que deleite estar
na presença desse jovem pastor, cadeirante e com asas tão possantes que se
abrem nos espaços a todo instante.
Meus dois presentinhos: o livro Paz e Bem,
uma belíssima obra em capa dura sobre São Francisco de Assis, e um vinho.
Assinei dedicatória enquanto o vinho era aberto e derramado em taça. Não
aceitei brindar, infelizmente. Fui convidado a almoçar, mas outros afazeres me
impediam de compartilhar as delícias gulosas daquela mesa.
Despedi-me repleto de contentamento. Toda vez
que encontro e converso com Padre Mário me sinto assim. Confessarei algo mais.
A cada abraço apertado e demorado de Padre Mário é como se os laços de amizade
ficassem mais unidos e acrescidos de confissões: que a seiva do abraço revigore
nossos corações para o eterno querer!
Já em pé para o retorno, disse apenas que
lesse uma pequena mensagem postada por mim nas redes sociais naquela manhã. E
mais tarde, nos comentários, lá estava sua voz: “Não faço por merecer. Não
mereço. Total gratidão”. Merece sim, Padre Mário, merece muito mais. E por isso
mesmo reproduzo as palavras de ontem:
“Mário César de Souza, filho de José Cirilo
de Souza e Maria de Lourdes Santos. Padre Mário, simplesmente. E tudo.
Natural de Neópolis, cidadão sertanejo, homem
de terra e céu. Aquele que veio entre nós e Nossa Senhora da Conceição de Poço
Redondo acolheu como filho querido. E deste berço jamais abrirá a porta em
despedida!
Repito: E deste berço jamais abrirá a porta
em despedida! E assim por que Poço Redondo o tem como dádiva maior – verdadeira
benção – chegada em caminhada sobre cadeira de rodas para ensinar o sertanejo a
se erguer e caminhar pelo bom caminho.
Dotado de qualidades exemplarmente dignificantes,
talvez suas características mais profundas estejam no falar o que o seu povo
anseia ouvir, no dialogar sobre mundo e vida sem nada acobertar, na pulsação
eloquentemente apaixonada sobre verdades celestiais e realidades terrenas,
refletindo o sagrado na palma da mão calejada do povo.
Padre Mário não quer simplesmente a igreja,
não quer simplesmente a Bíblia, não quer simplesmente a Deus. Pasmem! Padre
Mário quer a igreja do povo e o povo na igreja, quer a Bíblia onde os
evangelhos sejam também aqueles escritos pelo povo no seu mister de viver, quer
Deus refletido como luz de sol sertanejo no semblante e coração de cada um.
E como é bom ouvir seu sermão, Padre Mário,
como é bom sentar ao seu lado para dialogar grandiosas miudezas, como é bom
avistá-lo chegando como anjo traquina para falar aos jovens, chegando como
querubim cadeirante para repassar mensagens dos céus aos mais velhos, chegando
com o seu vozeirão para dizer: Acorda, Marizete!
Parabéns, Padre Mário. Das águas
são-franciscanas à aridez petrificada poço-redondense. Não chegado como
escolha, mas como missão. Ou talvez como um daqueles mistérios sagrados que só
são desvendados quando o povo reconhece a grandeza do presente de Deus.
Entre nós, Padre Mário, és um grandioso
presente de Deus. E por isso mesmo hoje Poço Redondo e o sertão inteiro
festejam o seu natalício. Cinquenta anos em um menino, em um homem menino, em
um menino anjo. Anjo sagrado e tão profano no realismo explícito em tudo que
faz e diz.
És verdadeiro. O povo sertanejo será sempre
fiel à suas verdades, abraçará sempre suas sinceridades, sentirá na sua
presença a força que tanto necessita para sobreviver e espiritualmente se elevar
ante as durezas dos tempos.
Já é Natal. Feliz Natal, Padre Mário. A sua
estrela de Belém já brilha hoje nos horizontes. Ao redor dessa manjedoura
sertão, o povo louva o seu nascimento, como se louvando já estivesse o
nascimento daquele outro menino.
A paz! Cinquenta anos e muitos outros mais. A
paz!”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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