*Rangel Alves da Costa
Não é
fácil namorar como antigamente. E principalmente por que quase ninguém mais
quer namorar como antigamente. Nos dias atuais, de permissividades libertinas,
quem ainda iria piscar um olho, esconder um bilhetinho entre as páginas de um
caderno, jogar poemas pela janela ou oferecer uma maçã do amor? Difícil
encontrar alguém que faça assim, e também pelo fato de que não será
correspondido. Ora, a moda é ficar, transar e tchau. A valia de hoje é a
experimentação, a curtição, o jogo do sexo, e pronto. Será tido como antigo e
conservador aquele que beije suave, que abrace carinhosamente, que dialogue,
que pegue na mão, que de mãos juntas leve o outro para ler Whitman sobre as
folhas da relva. Hoje será tido como coisa de museu um anel de compromisso ou
aliança de noivado. Ninguém mais ama o amor verdadeiro. Ninguém mais quer
namorar, mas tão somente ficar, curtir, transar. Não raro que após uma noitada
um sequer saiba o nome do outro. Mas eu queria namorar como antigamente sim. Eu
queria beijar a palma da mão e lançar o beijo pelo ar naquela direção. Eu
queria chegar com um raminho de flor e colocar no umbral da janela. Eu queria,
em tardes perfumadas de brisa, ler Florbela, Neruda, Cecília, Vinícius, Pessoa,
Drummond. Eu queria dizer “te amo”. Eu queria beija como se beija uma flor: tão
levemente suave que um colibri pareça voejar de nossos lábios. Ah como eu
queria namorar assim. Mas ninguém quer namorar comigo. Muito menos assim.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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