SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 10 de dezembro de 2016

SOU CONTRA (E DIGO POR QUE)


*Rangel Alves da Costa


Sou contra proibir vaquejada sob alegação de maus-tratos, e a mesa humana de cada dia chegar recheada de dores e sofrimentos. Ou será que não maltrata o animal ter o seu pescoço puxado, ser sangrado, tomar paulada para morrer?
Sou contra qualquer tipo de fiscalização ambiental para derrubar barracos de pescadores, rasgar redes e apreender barcos de pesca e sobrevivência, quando as orlas e as margens, ao longo de terras praieiras ou ribeirinhas pertencentes à União estão abarrotadas de mansões inatacáveis.
Sou contra criar leis proibitivas de tudo e sobre tudo, como não falar ao telefone ao volante, e depois afrouxá-las a ponto de afeiçoa-las ao desuso. Ou a lei tem eficácia, passa a ser eficientemente aplicada, ou servirá apenas para aumentar as páginas dos códigos absurdos como alguns existentes no país.
Sou contra primeiro ficar, transar, ir a fundo, como se diz por aí, para somente depois o rapazinho e a mocinha passarem a ser conhecer ou até mesmo tomarem conhecimento do nome um do outro. Tal banalização do sexo, tamanha permissividade do corpo, tão esdrúxulo modo de ser, a nada mais serve senão para a proliferação de uma sociedade onde a vulgarização tomará o lugar de todo o caráter e de toda a honra.
Sou contra a existência da saudade. Se há algo que bem poderia não ser relegado ao ser humano, este seria a saudade. E assim por que ter saudade é continuar no sofrimento, no padecimento, na aflição, como um martírio que não se afasta e que ataca cada vez mais forte quando a pessoa já parecia refeita de toda dor e de toda perda.
Sou contra casamento, absolutamente contra. Quando os enamorados se reconhecem aptos à união, que procurem fortalecer os laços vivendo conjuntamente, sem necessidade de formalismos cartoriais nem celebrações religiosas. E será a liberdade em cada um que dirá se a união deverá persistir.
Sou contra campanha eleitoral, categoricamente contra. Para que pleitear uma prefeitura se o melhor candidato será sempre o dinheiro? E para que entrar numa disputa eleitoral se o candidato em si não tem nenhuma valia, mas tão somente o que ele tenha para gastar?
Sou contra tomar somente uma dose, absolutamente contra. O bom da bebida é o foguinho, não a bebice. O bom da bebida é a alegre euforia trazida pela golada, e não o exagero. E só fica eufórico e com foguinho bom é quem toma mais de uma dose. Por isso sou contra tomar somente uma dose, completamente contra.
Sou contra etiquetas, cerimoniais, formalismos e outras frescuras. Absolutamente contra sentar à uma mesa chique, pedir uma comida de nome estrambólico, depois ser servindo com um nadinha dentro de um prato e ter de pagar uma fortuna. Sair com fome e ainda ter de dar gorjeta gorda ao empregado que nada lhe satisfez.
Sou contra, infinitamente contra que em nome da finura a pessoa passe a esconder ao mundo as suas reais preferências, os seus gostos, aquilo que realmente lhe dá prazer. Gosta de cuscuz com tripa assada e diz a todo mundo que não, Gosta de comer com a mão, de chupar osso de galinha, mas diz a todo mundo que não. Gosta de comida de feira, de se lambuzar com guloseimas, mas diz a todo mundo que não.
Sou absolutamente contra esconder sentimentos, negar a si mesmo e aos outros suas dores íntimas. No verdadeiro e puro do ser humano não se deve fingir ou esconder pequenos rompantes que martirizam a alma e todo o ser. Sim, chorar, soluçar, gritar, dizer que ama, repetir que ama, não ter vergonha de revelar suas verdades.
Sou contra não pensar assim. Contudo, apenas opiniões pessoais. Não sou contra o que os outros fazem ou deixam de fazer. Uma questão de respeito e de liberdade de pensar, agir e fazer.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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