*Rangel Alves da Costa
Não temo a
vida. Não temo a morte. Tanto faz gato preto ou escada levantada no meu caminho.
Gosto de goiabada com queijo e não de doce importado. Causa-me prazer o
silêncio, a máxima plenitude do silêncio. Gosto de Offenbach, não nego. Gosto
de ouvir Barcarolle ao entardecer. Não beijo a borda da taça por que não bebo
mais. Fumaria um charuto cubano se houvesse ao meu alcance. Gosto de estrada
nua, de chão, de espinhos e pedras, ladeadas de pequeninas flores do campo.
Água fresca bebida com a mão. Repouso debaixo do umbuzeiro. Sinto saudade de
incenso. Gosto de acender uma vela rente ao meu oratório. Converso com Deus, a
ele tudo digo do meu viver. Não tenho medo de revelar segredos ou pecados. Sou
humano, contudo parecido com folha de outono. Sim, gosto do outono com suas
cores tristes. Eu também sou triste. Dentro de mim um tanto Clarice Lispector,
um tanto Florbela Espanca, uma dor, uma dor. Um grito. Deixo a chuva chegar
para sofrer melhor. Eis um tempo bom para sentir saudade. A chuva, a chuva.
Engano meu. São apenas meus olhos molhados. Adeus.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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